Uma pesquisa em urologia, desenvolvida pela Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), comprovou a eficácia de um método de profilaxia, no combate a sequelas como a hematúria (sangramento na urina) e a disúria (dor na hora de urinar), durante o tratamento radioterápico do câncer pélvico. O estudo clínico, oriundo do Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic), será destaque no Congresso Anual da Associação Americana de Urologia, Educação e Pesquisa, considerado o maior evento internacional da área.
O congresso acontece entre os dias 12 e 16 deste mês, em Boston, Massachusetts (EUA). A pesquisa foi realizada por acadêmicos de diversas instituições de ensino superior do Estado, sob a orientação do urologista oncológico e médico da Fundação, Giuseppe Figliuolo.
A pesquisa tem como título: “A eficácia do ácido hialurônico intravesical quanto ao desenvolvimento de cistite actínica em pacientes durante radioterapia pélvica”. De acordo com Giuseppe, o ensaio clínico foi desenvolvido ao longo de cinco anos e incluiu cerca de 50 pacientes portadores de diversos tipos de câncer na região pélvica.
Cistite actínica – No decorrer do estudo, que acontece de forma contínua, ficou comprovado que o ácido hialurônico contribuiu como agente para a profilaxia da cistite actínica, uma inflamação crônica na bexiga, comum a pacientes submetidos à radioterapia na região pélvica.
Segundo o especialista, pacientes que fizeram uso da substância obtiveram melhorias na qualidade de vida frente aos que não a utilizaram.
Uma das participantes do estudo, a acadêmica do 5º ano de medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Etelvina Karditsa Cruz Moreno, 25, explicou que, entre 2015 e 2017, foi analisado um grupo de aproximadamente 50 pacientes. As pacientes utilizaram o ácido hialurônico (medicação em estudo) durante 12 sessões – uma a cada semana – e não apresentaram sequelas como sangramento urinário e dores na hora de urinar (disúria) durante e após a radioterapia.
Em contrapartida, a parte do grupo de controle de pacientes que não utilizou a medicação, desenvolveu a cistite. A ideia é que, diante da comprovação de eficácia, a medicação passe a ser utilizada de forma rotineira na FCecon, unidade polo considerada referência em cancerologia na Amazônia Ocidental.
Como funciona a aplicação – O ácido hialurônico, substância base do estudo, é aplicado, semanalmente, nas pacientes em controle. Elas recebem, através de um cateter, 50ml da substância diretamente na bexiga, o que ajuda a evitar as inflamações associadas ao tratamento. Hoje, as pacientes em acompanhamento são, em sua maioria, portadoras de câncer de colo uterino, principal tipo de neoplasia maligna no sexo feminino no Estado, com previsão de 680 novos casos/ano no Amazonas, aponta a estimativa mais recente do Instituto Nacional do Câncer (INCA), subordinado ao Ministério da Saúde (MS).
De acordo com Etelvina, ao final do tratamento, as pacientes são acompanhadas por mais nove meses, período em que elas podem desenvolver alguma sequela oriunda do tratamento radioterápico. A maior parte do grupo analisado tem entre 40 e 70 anos. O estudo já foi apresentado em outros congressos nacionais e internacionais, sendo o último deles, em agosto de 2016, em Buenos Aires, Argentina.