A acusação contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), feita pelo consultor Júlio Camargo à Justiça preocupou o governo Dilma Rousseff e pôs em alerta aliados do deputado. Após um semestre de derrotas na Câmara, o Palácio do Planalto prevê um cenário ainda pior a partir de agosto, com possíveis retaliações. No caso dos aliados de Cunha, a delação de Camargo e os rumores de que poderão surgir mais fatos contra Cunha os obrigam a repensar sua ação — o mesmo desafio de partidos de oposição, como PSDB e DEM, que se uniram a Cunha para derrotar o PT e Dilma na Casa.
Apesar de Cunha ser um dos principais algozes do governo, o Planalto não comemorou o revés sofrido por ele. Para um ministro do núcleo político, o impacto será “ruim” para Dilma.
— O governo precisa de paz — disse esse ministro.
O próprio Cunha, em café da manhã com jornalistas, antes da delação de Camargo se tornar pública, sinalizara que o governo viverá dias difíceis , após o fim do recesso parlamentar:
— Os deputados vão ficar duas semanas com o povo nas bases nos ouvidos deles, ouvindo reclamações sobre desemprego, então tendem a voltar ainda mais duros em relação ao governo.
Ele também admitiu analisar o pedido de impeachment de Dilma, entregue pelo Movimento Brasil Livre:
— Pedi pareceres de outros juristas fora da Casa para formar meu convencimento.
Aliados de Cunha afirmam que a tendência será que ele parta para cima da presidente. Em conversas reservadas, ele diz que não “cairá sozinho”. Desde que foi incluído pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na lista de investigados da Lava-Jato, Cunha acusa o governo de trabalhar para enfraquecê-lo.
Beneficiários da condução de Cunha na Câmara, integrantes da oposição dizem que agirão com responsabilidade.
— Reconhecemos a delação premiada como melhor instrumento, pois, sem ela, não estaríamos no nível de apuração que estamos. Mas, assim como aconteceu com as delações que citam a presidente Dilma, a oposição não entrou com pedido de impeachment. O mesmo cuidado e responsabilidade teremos com outras autoridades — disse o vice-líder do PSDB, Nilson Leitão (MS).