A Polícia Civil do Espírito Santo, por meio da Desarma (Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos), desarticulou uma rede de vídeos no YouTube que instruíam usuários a confeccionarem armas de fogo caseiras. Ao todo, foram derrubados mais de mil conteúdos na plataforma, que totalizavam 110 milhões de visualizações em canais que somavam 843 mil inscritos. As informações foram divulgadas na quinta-feira, 18.
Além disso, conforme as autoridades, foram identificadas possíveis fábricas clandestinas de armamentos em mais de dez estados do Brasil. Em uma outra ação policial de dezembro de 2023, um suspeito admitiu ter aprendido a confeccionar armas por meio de tutoriais do YouTube e produzia os equipamentos em uma oficina.
Em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira, 18, as autoridades informaram que estavam observando a rede de vídeos no YouTube desde o final do ano passado, quando houve a prisão de um suspeito que se utilizava do conteúdo para fabricar armas e vendê-las ao crime organizado. Além de conteúdos na plataforma, também eram disponibilizados documentos de PDF que serviam de instrução e contatos para adquirir tais equipamentos.
Segundo o delegado Daniel Belchior, do Desarma, as armas eram utilizadas majoritariamente para a prática de crimes.
Nos comentários, muitos usuários tiravam dúvidas de que ferramentas e peças utilizar para confeccionarem as próprias armas de fogo. “‘Mano’, é furadeira, máquina de solda, régua, lixadeira”, responde outro internauta.
Em outro vídeo, um usuário ironiza a situação afirmando que tais vídeos resultariam em prisões. “Se tivesse medo de cadeia não tava trabalhando de armeiro. […] Ganho mais de cinco mil por mês, pago minhas contas e não dependo de ninguém para estar incomodado se vou preso ou não”, retruca uma conta no Youtube.
Operações em todo Brasil
“Boa parte desses canais não são do Espírito Santo, mas de outros estados. Então, a realidade da fabricação de armas caseiras está no Brasil todo”, explicou Daniel Belchior, citando que foram identificados canais em mais de dez estados como São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás, Rondônia, Mato Grosso, Pernambuco e Maranhão.
Ainda de acordo com as autoridades, os vídeos não possuíam qualquer restrição de idade e havia a produção e venda de armas em grande quantidade com base nos conteúdos. “Certamente cada estado vai desenvolver suas operações voltadas para isso”, declarou José Darcy Arruda, delegado-geral da Polícia Civil do Espírito Santo.
Conforme José Darcy Arruda, o Ministério da Justiça compreendeu a magnitude das investigações e irá convocar as autoridades de todos os estados para a realização de operações.
Plataformas
Após as investigações, as forças de segurança pediram para que os canais fossem excluídos com base nas próprias diretrizes da plataforma, o que foi recusado e aconteceu apenas após as autoridades entrarem com uma medida judicial. “As empresas nem sabem que estão tendo sua marca vinculada a conteúdo ilegal que é disponibilizado”, afirmou o delegado Daniel Belchior em relação à monetização do YouTube.
Em nota à IstoÉ, o Youtube reafirmou a segurança da plataforma com a segurança dos criadores de conteúdo, espectadores e parceiros. Leia abaixo:
A segurança dos criadores de conteúdo, espectadores e parceiros é nossa maior prioridade. Por isso, possuímos uma política sobre conteúdo relacionado a armas de fogo.
Não é permitido publicar no YouTube conteúdo que tenha a finalidade de vender armas de fogo, instruir os espectadores sobre como produzir armas de fogo, munições e acessórios relacionados ou ensinar o público a instalar esses acessórios.
O YouTube também não permite transmissões ao vivo que mostrem uma pessoa segurando, manuseando ou transportando armas de fogo.
Com informações de istoé.
