Quem merece a solidariedade de Bolsonaro? Por Willam Lucas

Willam Lucas – Há dias, uma pergunta ecoa nas redes sociais: quando o presidente da República, Jair Bolsonaro, iria se manifestar sobre a execução sumária de Evaldo Rosa, cujo carro foi alvejado por oitenta tiros do Exército no Rio de Janeiro, no domingo (7)? Com o tempo, todos viram que as condolências por parte do presidente, que o pedido de desculpas devido à família de Evaldo, que o mea culpa sobre a ação do exército não viria.

Jair Bolsonaro calou. Não só ele, mas todo o primeiro escalão de seu governo calou ante a tragédia que matou um homem que levava a família para um chá de bebê e que, em seguida, voltaria para o trabalho. Nenhuma palavra de solidariedade, apoio, pesar. Nenhuma visita de membro do governo à família destroçada pelo poder público, sem chances de defesa. Nem um pio.  

O brasileiro médio começou a pensar, em seguida, que talvez Bolsonaro não fosse afeito ao sentimentalismo de uma manifestação pública de solidariedade. Militar “durão”, o presidente talvez estivesse tão atarefado governando o país, que acabou não tendo tempo de ordenar que algum assessor ou filho escrevesse 280 caracteres em um tuite abraçando a família de Evaldo Rosa. Talvez fosse isso.

Não era.

Na manhã desta quinta-feira (11), Jair Bolsonaro voltou ao Twitter para solidarizar-se.

Não com Evaldo Rosa e sua família.

Não com as vítimas da irresponsabilidade de seus aliados em Rio de Janeiro, cuja omissão em relação às chuvas e os alagamentos ocasionaram a morte de mais de uma dezena de pessoas.

Bolsonaro se solidarizou com o apresentador Danilo Gentilli, condenado mais uma vez por crime de injúria contra a deputada federal Maria do Rosário (PT), a mesma que Bolsonaro teria insinuado, anos antes, que não merecia ser estuprada por ser feia.

Gentilli divulgou fotos e informações falsas sobre a filha de Maria e, quando recebeu uma notificação da Câmara dos Deputados para apaga-las, esfregou a notificação obscenamente, dizendo que Maria do Rosário era paga com seu dinheiro e que, se alguém teria de mandar alguém calar-se, esse alguém seria ele. Tudo isso documentado em vídeo, postado nas redes sociais do apresentador.

Para Bolsonaro, Gentilli exerceu seu “livre direito de expressão” e por isso não merecia ser condenado. Bolsonaro emprestou a solidariedade do presidente da República e da maior instituição democrática do país para o apresentador.

Pensando bem, talvez tenha sido melhor que Bolsonaro tenha emprestado a sua solidariedade para Gentilli, a mesma que tenha faltado para com Evaldo Rosa e outras vítimas de violência, muitas vezes promovidas por forças de segurança do Estado ou por pessoas ligadas a elas.

Evaldo, trabalhador preto e pobre de um subúrbio carioca, não merece ter seu nome ligado a uma figura que defendeu a morte de 30 mil pessoas, “completando um trabalho que o Regime Militar não fez, inclusive Fernando Henrique Cardoso”, a um homem que desejou que a ex-presidenta Dilma Rousseff morresse de câncer, que homenageou um torturador que enfiava ratos dentro da vagina de mulheres em suas sessões de terror, em plena Câmara dos Deputados.

Quem merece a solidariedade deste presidente da República?

Eu tenho pena de quem a merece.

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