A taxa de pobreza na Alemanha foi recorde, de 15,7%, após a reunificação em 1990, contra 14,7% há uma década, mostra o relatório Evolução da Pobreza na Alemanha de 2017, coordenado pela organização não governamental (ONG) Associação para a Igualdade. O relatório define a pobreza, em termos relativos, como famílias com menos de 60% da renda média de todas as famílias.
Christian Woltering, que coordenou o projeto, disse à Agência Xinhua que as causas são várias, mas que mudanças na política tributária nos últimos 20 anos levaram à crescente desigualdade.
“Os salários são tributados mais pesadamente do que o capital,” disse Woltering. “Há menos impostos sobre a riqueza, por exemplo; o imposto sobre herança é muito baixo, e a segurança social tem sido reduzida.”
O relatório diz que o crescimento econômico na Alemanha não reduziu a pobreza que, na verdade, aumentou, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) aumentou de 2,3 trilhões de euros (US$ 2,4 trilhões) em 2005 para 3 trilhões de euros (US$ 3,1 trilhões) em 2016.
A Alemanha teve reformas significativas no mercado de trabalho, começando com as reformas Harz da Agenda 2010, na época do chanceler Gerhard Schroeder, e continuando na mesma direção com Angela Merkel.
As reformas foram destinadas a enfrentar a falta de competitividade do país e tiveram sucesso, já que a produtividade tem superado o crescimento dos salários reais há mais de 20 anos.
No entanto, o relatório mostra que apenas os 10% mais ricos estão se beneficiando dessas mudanças. Os 30% a 40% mais pobres não recebem quase nada do crescimento econômico gerado.
Além disso, as mudanças na política de emprego têm resultado em mais pessoas trabalhando em tempo parcial ou em empregos com salários baixos, criando lacunas e reduzindo os direitos de aposentadoria, disse Woltering. “Devido a mudanças como essas, o risco de pobreza dos aposentados aumentou 50% ao longo de 10 anos.”
A melhoria da competitividade da Alemanha também tem um preço social, lembrou Woltering. “Observamos um claro aumento da pobreza na Alemanha em dez anos, o que deve preocupar a todos nós, incluindo o governo.”
Em resposta a críticas de que a pobreza absoluta, e não a pobreza relativa, é a questão-chave a ser considerada, Woltering explicou que “em uma sociedade rica como a Alemanha, a pobreza deve ser definida em termos relativos. A pobreza não começa com os sem-teto, começa quando obriga a pessoa a se retirar da sociedade e a ser incapaz de participar dela de forma significativa”.