Renan Calheiros faz parceria com Serra no Senado

Há um mês, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), estava eufórico no plenário com a aprovação de uma proposta que libera recursos de depósitos judiciais e administrativos para Estados e municípios pagarem precatórios, dívida pública e investimentos. Era uma solução que prevê a injeção de R$ 21 bilhões nos governos regionais e, especialmente, reforça o combalido caixa de Alagoas, administrado pelo filho do presidente do Senado, Renan Filho (PMDB).

“Quero, fundamentalmente, cumprimentar o senador José Serra. Este é um momento grandioso para o Senado Federal, que conta com o senador José Serra na sua exuberância de inteligência e de participação. Pronto aos 70 anos de idade. Parabéns, senador!”, elogiou Renan, da cadeira de presidente. “Senhor presidente, em primeiro lugar, queria agradecer a Vossa Excelência pela generosidade das palavras que dirigiu a este plenário e a mim. Descontados os exageros, que fazem parte da sua personalidade na relação comigo, queria, realmente, agradecer, com muita sinceridade”, respondeu o tucano, que, na verdade, tem 73 anos.

Operação

O salamaleque de Renan a Serra não foi um fato isolado na ação do presidente do Senado. A mudança ocorreu após Renan entrar, em março, para a lista da Operação Lava Jato, o que o levou a acreditar que o governo atuou para colocá-lo no rol de investigados pelo Supremo Tribunal Federal. Ao mesmo tempo, ele se distanciou da presidente Dilma Rousseff, que retirou aliados do presidente do Senado de cargos-chave no Executivo. O peemedebista tem feito uma dobradinha com o senador do PSDB, “criando” uma agenda independente no Legislativo.

Além do projeto dos depósitos judiciais, que está na Câmara, o presidente do Senado já escalou o tucano para coordenar dois grupos de trabalho. O primeiro visa a firmar um pacto pela criação e manutenção de emprego, lançado no final de abril na esteira de Renan ter chamado de “coisa ridícula” o fato de Dilma ter desistido de falar em cadeia de rádio e TV no 1º de Maio. O segundo, criado na quarta-feira passada, tem por objetivo instituir uma agenda paralela de propostas do Congresso que atendam aos Estados sem a necessidade de decisão do governo federal.

“Nunca o Congresso Nacional foi tão forte para fazer as mudanças que a Federação necessita”, discursou Serra no lançamento do segundo grupo.

“O que nós lamentamos muito é que aquele Brasil de 2014, que era projetado, era apenas um Brasil para a campanha eleitoral”, afirmou Renan na ocasião, após ter elogiado o ajuste fiscal feito pelos Estados.

Ganha, ganha

Aliados e adversários de ambos têm se mostrado surpresos com a parceria. A avaliação geral, segundo políticos entrevistados pelo Estado reservadamente, é que a dobradinha é positiva para os dois.

Renan busca sair da “agenda negativa” de ser alvo da Lava Jato ao mesmo tempo em que tenta se contrapor ao governo Dilma com uma pauta consistente de votações e debates públicos se valendo de Serra.

O tucano, por sua vez, consegue, com acesso ao peemedebista, um atalho para agilizar a tramitação das suas propostas na Casa, fazendo um contraponto à tímida atuação legislativa do ex-presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG). Ele ganhou destaque na sua volta ao Congresso duas décadas após experiências no Executivo, como ministro de Estado, governador e prefeito, e derrotas eleitorais, como nas disputas presidenciais contra Luiz Inácio Lula da Silva (2002) e Dilma Rousseff (2010).

Na avaliação de um senador do PSDB, “Renan não está preocupado se existe um jogo na oposição”. Para ele, “a estratégia de Renan é ganhar espaço na imprensa, que sempre esteve contra ele, somando mais notícias positivas do que negativas”.

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