Sagui conforta parceira à beira da morte na mata atlântica

Uma equipe de biólogos, entre eles dois brasileiros, filmou o momento em que um sagui macho abraça e cuida de sua parceira à beira da morte. O episódio, considerado inédito pelos especialistas, ocorreu depois que a fêmea caiu acidentalmente de uma árvore em uma zona coberta por mata atlântica no Nordeste do Brasil.

Enquanto ela agonizava, o macho a confortava, enxotando jovens saguis curiosos para saber o que estava acontecendo no local. Pesquisadores se surpreenderam com a demonstração de afeto. Até hoje, cenas semelhantes envolvendo primatas só haviam sido gravadas com chimpanzés e humanos.

Os saguis eram um casal dominante no grupo e estava junto há três anos e meio. Meses após a morte da parceira, o macho abandonou o grupo e nunca mais retornou.

‘Cuidado e atenção’
Os detalhes dessa interação extraordinária foram publicados na revista científica , junto com o vídeo registrando o comportamento inédito.

“O cuidado e a atenção com que ele trata sua parceira me deixou espantada”, disse à BBC a primatologista brasileira Bruna Bezerra, da Universidade de Bristol, que testemunhou a cena.

Ela e e mais três colegas vinham estudando o mesmo grupo de saguis havia vários anos.

A equipe de pesquisadores acompanhou 12 primatas e suas interações. O grupo era formado por quatro machos adultos, três fêmeas adultas, três jovens e dois bebês.

Enquanto observavam os saguis, os biólogos viram a fêmea dominante do grupo, que apelidaram de F1B, cair de uma árvore e batendo sua cabeça em um objeto no solo.

Ferida gravemente, a fêmea permaneceu deitada no chão agonizando por duas horas e meia antes de morrer.

“O comportamento mais marcante durante esse tempo partiu do macho dominante M1B”, afirmou o estudo.

Depois de 45 minutos, o macho percebeu a fêmea estirada no solo.

“Ele foi imediatamente ao encontro dela”, disse Bezerra à BBC Nature.

Nesse momento, conta a pesquisadora, o macho deixou para trás os dois bebês do casal em cima da árvore para descer até o chão e abraçar sua parceira. Ele permaneceu ao lado dela por 1h48, acrescentou Bezerra.

Durante o tempo em que a fêmea agonizava em seu leito de morte, ele a abraçou e a farejou. O macho também se manteve alerta, enxotando membros mais jovens do grupo que se aproximavam do corpo de sua parceira.

Conforto à beira da morte
Apesar do ineditismo da cena em saguis, não é a primeira vez que tal comportamento é observado em primatas. Pesquisadores já haviam testemunhado chimpanzés cuidando de outros membros do grupo à beira da morte.

Em um caso, quando uma fêmea foi atacada por um leopardo, um chimpanzé mais velho também manteve os mais jovens afastados do corpo da primata.

Ainda não se sabe o motivo exato pelo qual alguns primatas evitam que membros mais jovens se aproximem de outros agonizando ou mortos. Saguis jovens são conhecidos por cuidar de familiares feridos.

Os pesquisadores destacam que a raridade e a complexidade de tais observações tornam difícil avaliar como primatas percebem a morte. Por exemplo, durante a interação, o macho M1B tentou copular com a fêmea F1B.

Os saguis tendem a usar o sexo para reforçar os laços sociais, tais como outros primatas, como os bonobos.

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