Sem luz e água, aldeia indígena vive em condições sub-humanas, diz MPF

Reprodução/Redes sociais

O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou, na terça-feira (20/8), duas ações civis públicas para exigir o abastecimento de água tratada e energia elétrica na aldeia indígena guarani Tekoa Gwyra Pepo, em Tapiraí, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo. As ações, movidas contra a Sabesp, a concessionária de energia da região, a Prefeitura de Tapiraí e a União, pedem o estabelecimento imediato dos serviços, além do pagamento de pelo menos R$ 2 milhões em indenização.

De acordo com o órgão federal, os 260 moradores da aldeia não têm condições dignas de vida e estão em situação “sub-humana”. Eles têm consumido água sem tratamento, captada manualmente de um rio próximo, o que, segundo o MPF, resulta em frequentes quadros de infecção entre os indígenas.

Em relação ao abastecimento de energia, o MPF aponta que os 40 núcleos familiares da aldeia compartilham um poste de energia, instalado de forma improvisada na área. Entre outros transtornos, a dificuldade no acesso de energia estaria prejudicando a conservação de alimentos.

Em 2019, colaboradores da Tekoa Gwyra Pepo chegaram a organizar vaquinhas on-line para instalação de placas solares e um sistema de bombeamento de água no local. Segundo o texto de divulgação, os moradores da aldeia precisavam percorrer 300 metros diariamente para buscar água, utilizada para beber, tomar banho e lavar roupas. As campanhas tinham meta de arrecadação de R$ 11.500, mas conseguiram reunir apenas R$ 1.085.

Racismo ambiental

A aldeia está localizada a apenas alguns quilômetros da área urbana de Sorocaba, no interior de São Paulo. Para o Ministério Público Federal, a falta de água tratada e energia que a comunidade enfrenta ilustra a discriminação contra povos originários, uma vez que os outros bairros da região têm acesso a esses serviços.

“Não é exagerado afirmar que há uma séria afronta ao princípio da isonomia e que a situação configura nítido exemplo de racismo ambiental”, escreveu André Libonati, procurador da República e autor das ações civis públicas.

O MPF pede que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) seja obrigada a instalar banheiros químicos provisórios e uma caixa d’água coletiva até que o serviço de saneamento seja regularizado no local. Além disso, o órgão quer que a Elektro, concessionária responsável pelo abastecimento de luz na região, faça uma ligação temporária até que o cadastro dos moradores no sistema de energia local seja finalizado.

Além das duas empresas, as ações civis públicas apontam a Prefeitura de Tapiraí e a União como omissas no seu dever de prover serviços públicos essenciais. Por isso, o MPF pede que os quatro agentes citados sejam condenados a pagar pelo menos R$ 1 milhão em indenização para cada ação por danos morais coletivos.

Em nota, a concessionária Elektro informou que ainda não foi notificada, “mas avaliará todas as providências a serem tomadas assim que tiver ciência do teor da ação”.

O Metrópoles tentou falar por telefone com a Prefeitura de Tapiraí, mas não obteve retorno. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), órgão indigenista do governo federal, e a Sabesp também foram foi contatadas, mas não responderam à solicitação. O espaço para manifestação permanece aberto. Com informações de Metrópoles.

Artigo anteriorQueimadas na Amazônia fizeram corredor de fumaça que afeta 10 estados
Próximo artigoBombeiro morre após cair de 15 metros de altura durante poda de árvore