A Organicação das Nações Unidas (ONU) iniciou hoje (29) a distribuição de ajuda em uma das cidades cercadas na Síria, pela primeira vez após o início do cessar-fogo no sábado (27). A medida parece estar sendo respeitada, apesar de diversos incidentes.
Em Genebra, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou que a trégua está sendo “globalmente respeitada”, mesmo que tenham sido registados “alguns incidentes”.
O grupo de trabalho responsável pelo acompanhamento da situação no terreno deveria reunir-se esta tarde a partir das 14h (hora de Lisboa, às 11h em Brasília) na cidade suíça para assegurar “o fim de diversas violações [do cessar-fogo] e o prosseguimento da trégua”.
A França solicitou uma reunião “sem demora” devido a informações sobre bombardeios aéreos “contra as zonas controladas pela oposição moderada”.
Na sequência desta trégua sem precedentes, aceita pelo regime de Damasco e pelas formações rebeldes, mas que excluiu os grupos jihadistas, a ONU anunciou que vai fornecer assistência nos próximos cinco dias a 154 mil pessoas em localidades sírias cercadas.
Um responsável do Crescente Vermelho sírio indicou que dez dos 51 caminhões de ajuda que se dirigem para Mouadamiyat Al Cham, localidade rebelde situada a sudoeste de Damasco e cercada pelas forças do regime, já entraram na cidade ao início da tarde.
Segundo Mouhanad Al Assadi, os veículos transportaram produtos de limpeza, sabões e cobertores fornecidos pela ONU.
Esta foi a primeira vez que foi entregue ajuda humanitária na Síria desde o início da trégua, mas em fevereiro a ONU já tinha enviado por duas vezes ajuda para essa localidade, e para outras cidades submetidas a prolongado cerco.
“Mais de 450 mil pessoas estão atualmente presas em cidades e outras localidades da Síria, e em alguns casos há anos”, recordou hoje em Genebra Zeid Ra’ad Al, Alto comissário da ONU para os direitos humanos.
“A alimentação, os medicamentos e outros produtos de ajuda humanitária são repetidamente proibidos. Milhares de pessoas arriscam-se a morrer de fome”, destacou.
Hoje, bombardeamentos e disparos limitados desafiaram o cessar-fogo, que não se aplica aos jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) e da Frente Al Nursa, e cuja aplicação é complicada pelo fato de este último grupo combater ao lado de outras formações rebeldes em diversas regiões sírias.
De visita ao Kuwait, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) manifestou hoje preocupação pela violação da trégua. “É importante para todas as partes respeitar o cessar-fogo”, afirmou Jens Stoltenberg, que também demonstrou preocupação “pelo reforço das capacidades militares da Rússia na Síria”.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o número de mortos nas zonas sob controle do Estado Islâmico baixou drasticamente desde a entrada em vigor do cessar-fogo. Pelo menos 40 civis, soldados e rebeldes devem ter morrido no sábado, contra 144 na sexta-feira, véspera da trégua, informou a ONG, que desde o início do conflito em 2011 efetua um balanço com base em diversas fontes no terreno.
Este acordo de cessar-fogo, que suscitou um prudente otimismo pela Rússia e Estados Unidos, as principais potências estrangeiras envolvidas no conflito, é o primeiro do gênero em cinco anos de uma guerra que já provocou 270 mil mortos e milhões de migrantes e refugiados.