A presidente afastada, Dilma Rousseff, fez na manhã desta segunda-feira seu discurso de defesa contra o processo de impeachment. Os senadores julgam se ela cometeu crime de responsabilidade e, se o processo for aprovado, ela será definitivamente afastada.
Em mais de 40 minutos a presidente defendeu que não cometeu crime, que foi vítima de uma chantagem do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e que só teme a “morte da democracia”. “Estamos a um passo da concretização de um verdadeiro golpe de estado”, afirmou Dilma em seu discurso de defesa.
Emocionada após falar sobre seu julgamento na ditadura, Dilma disse que já enfrentou a morte por duas vezes: quando foi torturada e quando teve um câncer. “Hoje, só temo a morte da democracia pela qual muitos de nós lutamos. (…) Peço que votem contra o impeachment. Peço que votem pela democracia”, afirmou ao finalizar sua fala no Senado.
A presidente iniciou lembrando que foi eleita por 54 milhões de votos e assumiu compromissos com a democracia. Ela, então, destacou a resistência no tempo da ditadura militar. “Na luta contra ditadura vi companheiras e companheiros sendo violentados e assassinados. Eu era muito jovem e tinha muito a esperar da vida. Tinha medo da morte e das sequelas da tortura no meu corpo e na minha alma, mas lutei”, disse.
Ela continuou o discurso afirmando estar no lado certo da história e que lutou por um Brasil mais igual. “Quem acredita luta”, afirmou Dilma. “Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder, como é próprio dos que não tem caráter, princípios ou utopias a consquistar. Luto pela democracia, pela verdade, pela justiça e pelo povo do meu país”, completou a presidente afastada.
Dilma também declarou que, após sua reeleição, “as elites conservadoras fizeram de tudo para impedir a posse”. E, além disso, impediram o bom funcionamento do Congresso para aprovar matérias que interfiriram no cenário fiscal. Ela também disse que a abertura do processo de impeachment foi fruto de chantagem explícita do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Essa é a primeira vez que a presidente se manifesta no processo de impeachment. Até agora, a defesa tem sido conduzida por seu advogado e ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Dilma teve 30 minutos, prorrogáveis a critério do presidente da sessão, Ricardo Lewandowski. Os senadores poderão questioná-la por cinco minutos cada um. Dilma responderá sem tempo limite. Segundo o Lewandowski, Dilma não será obrigada a responder todas as perguntas.
O cantor, compositor e escritor Chico Buarque é um dos 35 convidados da presidente Dilma. Ela está acompanhada também do ex-presidente Lula e dos ex-ministros Nelson Barbosa e Jaques Wagner. Espera-se que o discurso de Dilma seja emocional, e que ela relembre sua biografia e a luta que travou contra a ditadura.
Ao chegar ao Senado, pouco depois das 9h da manhã, a presidente foi recebida com gritos de “Ole, ole, olá, Dilma, Dilma” e “Dilma guerreira da pátria brasileira” por grupo de manifestantes contra o impeachment. Ela acenou e cumprimentou manifestantes e seguiu para o gabinete do presidente do Senado. Extra.com