A mais antiga Torre de Observação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) passa por um processo de revitalização, por meio do Projeto Museu na Floresta, para servir também ao turismo científico. A torre está prevista para ser entregue em junho deste ano.
O Projeto Museu na Floresta é uma parceria do Inpa com a Universidade de Kyoto (Japão), iniciada em 2015 com vigência até 2019, sob o patrocínio da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica). Tem por finalidade a conservação da biodiversidade na Amazônia com base em um novo conceito de museu.
As obras da torre começaram no início de março deste ano. O objetivo é permitir que mais pesquisas sejam implementadas e que haja uma maior interação com o público por meio do turismo científico e da divulgação dos conhecimentos adquiridos no local. A torre está localizada no Km 14 do ramal ZF-2, com entrada na altura do atual Km 934 da BR-174 (antigo Km 50).
De acordo com o pesquisador do Inpa e integrante do projeto Museu na Floresta, o ornitólogo Mario Cohn-Haft, a torre da ZF2 é crucial para pesquisas e observações, oferecendo uma experiência inigualável. “Essa torre tem uma importância histórica, por ser a mais antiga da Amazônia ainda em pé e servindo de inspirações para outras torres. É um equipamento bem construído, de peso e grau de segurança incríveis”, lembra.
Construída na década de 70 para propiciar mediações meteorológicas, a torre já serviu de base de pesquisa para vários projetos do Inpa, como estudos de fenologia das árvores (comportamento das atividades biológicas para verificar como está a vida da planta), ciclos químicos atmosféricos, estudos climáticos, além da obtenção de dados para teses e trabalhos científicos.
A Torre de Observação tem 40 metros de altura e a plataforma do topo encontra-se acima do dossel da floresta, o que a torna uma das duas torres de Manaus com uma vista de 360 graus dos vários estratos da floresta amazônica de terra firme, possibilitando a observação de pelo menos 250 espécies de aves das 400 já detectadas na região, além de várias espécies de mamíferos, répteis e insetos. A outra torre é a do Museu da Amazônia (Musa), que permite visitação aberta ao público.
No topo da torre da ZF2, há uma torre auxiliar de 10 metros para transmissão de dados captados no meio da selva. A torre foi destino preferido nos últimos anos para a observação e fotografia de aves, para a produção de filmes, matérias jornalísticas e para cursos sobre a floresta amazônica.
Segundo Cohn-Haft, com o passar dos anos, sentiu-se a necessidade de reformar e também fazer adaptações na torre para encorajar outro tipo de uso da torre, que é a visitação educativa. “A atividade de observação de aves tem crescido e a torre se tornou destino importante. Para se ter ideia, as primeiras descobertas das aves de copas da Amazônia central vieram dessa torre ainda nos anos 80”, revela o especialista em aves.
Apesar de apresentar sinais de desgastes com alguns pontos de corrosão pelas intempéries do clima tropical, a torre encontra-se conservada. Na avaliação de engenheiros que executam a obra, não há torre igual a essa sendo considerada uma relíquia e uma preciosidade insubstituível. Para os especialistas, a construção de outra torre no mesmo porte e com ferro na mesma espessura seria cara.
Conforme informações do Museu na Floresta, as obras de restauração da torre incluem pintura da estrutura, substituição de algumas peças desgastadas, além de melhorias estruturais como a substituição da escada antiga de 140 degraus (altos e pouco confortáveis) por outra mais suave e acessível.
Outra mudança importante é na reconfiguração na plataforma superior para oferecer mais espaço livre com os equipamentos dispostos na parte externa da torre, o que permitirá uma harmonia entre as atividades de pesquisa e visitação de grupos específicos (observadores, acadêmicos e cientistas). Neste caso, as visitas técnicas e científicas são previamente solicitadas na Divisão de Suporte às Estações e Reservas (Diser) do Inpa.
Sobre o Museu na Floresta
A secretária-executiva do projeto, Estefani Fujita, explica que o Museu na Floresta é um museu que foge do conceito tradicional. “Oferece não só uma narrativa de como podemos viver em harmonia com a floresta, mas também mostra na prática, por meio de vivências, como isso é possível”, diz.
Segundo Fujita, o Museu não é um local específico e está localizada em vários pontos. É uma rede de estruturas e instituições formada para a divulgação do conhecimento científico. E para atingir os objetivos do projeto estão programadas revitalizar algumas estruturas já existentes do Inpa como a Torre de Observações na ZF-2 (já em andamento), o Bosque da Ciência e a Exposição da Casa da Ciência.
Outro ponto que servirá de estrutura para o Museu na Floresta é a base de pesquisa do rio Cuieiras, localizada na Reserva Ecológica do Cuieiras, próxima ao município de Novo Airão, onde será instalada uma Base de Pesquisa e de Turismo Científico que servirá de apoio para capacitação de ribeirinhos, estudantes e profissionais com interesse na área ambiental. “Isso tudo forma uma rede de estruturas que servirá para fazer a divulgação do conhecimento científico do Inpa”, destaca Fujita.