Última vítima internada após queda de ponte na BR-319 recebe alta hospitalar em Manaus

A última vítima do desabamento da ponte sobre o Rio Curuçá, na BR-319, no Amazonas, que estava internada em Manaus, teve alta hospitalar nesta terça-feira (18).

Em um intervalo de 10 dias, duas pontes da rodovia federal desabaram a poucos quilômetros uma da outra:

  • 28 de setembro – A ponte sobre Rio Curuçá caiu no início da manhã daquele dia, deixando 4 mortos, um desaparecido e 14 feridos.
  • 8 de outubro – No fim da noite, a ponte sobre o Rio Autaz Mirim, desabou horas após ser interditada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Segundo o Governo do Amazonas, a última vítima, de 60 anos, estava internada em uma das unidades de saúde da capital.

Segundo a administração estadual, o idoso realizou procedimento cirúrgico e continuará recebendo cuidados da equipe médica, duramente o pós-operatório.

A BR-319 é a principal ligação por terra entre Manaus e outras regiões do país.

Problemas anunciados

Antes da ponte sobre o Rio Autaz Mirim despencar, a ponte sobre o Rio Curuçá já havia desabado no fim de setembro.

Nesse último trecho, o governo estadual informou que faz o transporte de pedestres via lanchas. Já em relação ao transporte de carros e cargas, a administração estadual afirmou que o Dnit prometeu enviar balsas.

O Portal da Transparência do Governo Federal indica que a empresa A G O Engenharia de Obras foi contratada em janeiro deste ano para trabalhar na recuperação de erosões – que é o fenômeno de desgaste do solo – em diversos pontos da rodovia, dentre eles, os locais nos quais as duas pontes desabaram.

O contrato, no valor de R$ 33 milhões, vence no dia 27 de outubro. A contratação foi feita sem licitação e prevê que, pelo menos, 28 trechos da BR-319 deveriam ser restaurados pela empresa.

Desabastecimento em três municípios

O governador Wilson Lima (União Brasil) decretou, no dia 10 de outubro, situação de emergência nos três municípios diretamente atingidos pela queda das pontes: Careiro da Várzea, Autazes e Careiro.

De acordo com o governo estadual, há desabastecimento de alimentos, remédios e combustíveis. Também há risco das cidades ficarem sem energia elétrica. Cerca de 100 mil pessoas estão sendo afetadas após os acidentes.

“Temos ali a questão do escoamento da produção, desabastecimento de alimento, de remédio, de combustíveis. É importante a questão do combustível, porque esse combustível é que faz funcionar as térmicas. Então, há um risco de que em algum momento isso aconteça, e a gente espera que isso não aconteça, de que alguns desses municípios possam ficar sem energia elétrica”, afirmou Wilson Lima.

Histórico e problemas

Criada durante a Ditadura Militar, a BR-319 surgiu com a proposta de integrar o Amazonas ao restante do país, mas sofre há décadas com falta de estrutura para tráfego. Durante a campanha eleitoral de 2018, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu asfaltá-la.

Passado mais de três anos e meio desde que Bolsonaro assumiu o cargo, a promessa de asfaltamento da BR-319 ainda não saiu do papel.

Questionado logo após a queda da ponte sobre o Rio Curuçá, o Ministério da Infraestrutura disse ao g1 que a declaração feita em 2019 por Bolsonaro “refere-se ao asfaltamento do lote C da BR-319/AM, que fica a aproximadamente 200 quilômetros do local do incidente [ponte sobre o Rio Curuçá]”, embora o presidente e a pasta não tenham deixado isso claro à época.

“O trecho de 405 quilômetros conhecido como “trecho do meião” recebeu em 28 de julho a licença prévia ambiental para as obras de reconstrução e pavimentação. Emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o documento aprova os estudos e viabilidade ambiental das obras. O próximo passo é a licença de instalação, que permitirá a contratação da obra, de acordo com as especificações constantes nos planos, programas e projetos aprovados pelo Ibama”, diz o restante da nota.

Inaugurada em 1976, a BR-319 é conhecida pelos diferentes problemas enfrentados ao longo dos anos. Trafegar pela estrada que liga a capital do Amazonas às outras regiões do Brasil é sempre um desafio para os motoristas.

Grande parte da rodovia segue imprópria para o trânsito de veículos em meio a impasses ambientais e burocráticos. São cerca de 800 quilômetros que separam Manaus de Porto Velho (RO), uma distância que poderia ser percorrida em 12 horas de carro. A recuperação da área está estimada em R$ 1,4 bilhão.

A rodovia possui diversos trechos danificados e não tem pavimentação em quase toda a sua extensão, o que provoca atoleiros “gigantes” no período chuvoso. Já no período de estiagem, os motoristas reclamam de outros problemas: buracos e poeira. Em alguns casos, crateras se abrem em trechos.

Na parte de Manaus, a rodovia já é um desafio logo no início, já que ela começa dentro do Rio Amazonas, numa área próximo ao bairro Distrito Industrial e ao famoso Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões.

Para partir do Amazonas em direção a Rondônia pela BR-319, pedestres e moradores se deslocam até um porto chamado “Ceasa”. Desse porto, pedestres entram em embarcações – barcos, lanchas e balsas – e motoristas, incluindo caminhoneiros, embarcam em balsas. É que todos os usuários da estrada precisam atravessar o rio para chegar à faixa de terra do outro lado, onde fica a área da ponte sobre o Rio Curuçá, a primeira que caiu. O trajeto dura, em média, 45 minutos.

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