A ativista iraquiana Nadia Murad e o médico congolês Denis Mukwege reivindicaram nesta segunda-feira (10) o fim da impunidade para os que cometem abusos sexuais em conflitos armados ao receberem o Prêmio Nobel da Paz na sede da prefeitura de Oslo, na Noruega.
“Os responsáveis pela violência sexual contra os yazid e outras mulheres e crianças devem ser perseguidos. Sem justiça, esse genocídio se repetirá contra nós e outras comunidades vulneráveis”, disse Murad, que pertence à minoria religiosa curda e foi sequestrada pelo Estado Islâmico (EI).
Mukwege e Murad foram agraciados com o Nobel por contribuírem para tornar visível e combaterem a violência sexual como arma de guerra: o congolês, por ajudar as vítimas do conflito bélico em seu país; a iraquiana, por sua condição de vítima e por denunciar publicamente os abusos.
“Apesar dos esforços, esta tragédia humana continuará se os responsáveis não forem perseguidos. Só a luta contra a impunidade pode romper a espiral de violência”, disse Mukwege sobre a República Democrática do Congo.
Murad – que perdeu sua mãe e seis irmãos, em uma história “similar” à de outras famílias yazid – denunciou que mais de 6,5 mil mulheres e crianças desta minoria foram vendidas, compradas e sofreram abusos. Além disso, a ativista reiterou que o destino de outras 3 mil yazid que caíram nas mãos do Estado Islâmico ainda é desconhecido.
Nem o governo iraquiano, nem os curdos e a comunidade internacional impediram o “genocídio”; e apesar da simpatia de vários países, não houve punições e a ameaça de “aniquilação” ainda persiste.
“Os responsáveis pelos crimes que causaram esse genocídio não foram levados à Justiça. Não quero mais simpatia, quero que esses sentimentos se reflitam em ações”, disse Murad, que reivindicou à comunidade internacional garantias de proteção aos yazid e a outras minorias sob amparo da Organização das Nações Unidas (ONU).
Mukwege, por sua vez, começou seu discurso lembrando os ataques a seu hospital ocorridos duas décadas atrás, a “violência macabra”, os muitos bebês que foram vítimas de violência sexual, além da demonstração de um caos “perverso e organizado” que resultou em mais de 6 milhões de mortes, 4 milhões de deslocados e centenas de milhares de mulheres estupradas na República Democrática do Congo.
A causa fundamental desse conflito bélico é a riqueza mineral, garantiu Mukwege, que lembrou que carros, joias e telefones celulares contêm minerais extraídos em seu país em condições “desumanas” e sob intimidação e abusos sexuais.
“Nós congoleses fomos humilhados, maltratados e massacrados durante mais de duas décadas aos olhos da comunidade internacional”, afirmou Mukwege, que lembrou que um relatório sobre crimes de guerra e violações no Congo feito pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU (Acnudh) está “acumulando poeira” em uma gaveta.
O médico congolês pediu medidas para compensar os sobreviventes e ajudá-los a iniciar uma nova vida, porque é um “direito humano”, e pediu a criação de um fundo global para indenizar as vítimas de violência sexual em conflitos armados.
Por sua vez, a presidente do Comitê Nobel Norueguês, Berit Reiss-Andersen, afirmou em seu pronunciamento que os premiados mostraram que o sofrimento humano nos conflitos bélicos é “universal” e que as mulheres são “vítimas invisíveis do horror da guerra”.