Vítimas do descaso e da intolerância – A triste realidade do interior do Amazonas

Entregues a própria sorte

O isolamento dos moradores que vivem nas áreas mais distantes do Amazonas é uma prova de resistência que começa quando criança e vai por toda a vida adulta dos indivíduos.

Nesses locais não existe assistência médica e as escolas são apenas formalidades para que as crianças não fiquem sem atividade escolar, mas a aprendizagem está comprometida pela fome e o baixo nível profissional das pessoas encarregadas das aulas.

Algumas comunidades possuem serviço de agentes de saúde, mas esses são desprovidos de treinamento básico e não dispõem de remédios para aliviar dores comuns na criançada, como a de dente e de barriga.

Para piorar a situação de isolamento, as comunidades não são assistidas por transporte de lanchas, que algumas prefeituras adquiriram, porque estão sempre indisponíveis quando se trata de buscar um paciente de regiões afastadas da sede do município.

Quando os moradores dos beiradões precisam levar um filho doente até o hospital da cidade, as canoas são os meios de transportes disponíveis.

A viagem pode durar dias, como no caso do o menino Jurandir Cabral, de oito anos, que vive isolado com os pais às margens do rio Ituí, afluente do Javari, e que sofre de constante dor de dente.

Para amenizar o sofrimento, seus pais usam uma mistura de ervas e casca de árvores como lenitivo para a dor.

“A criança sofre muito. A dor de dente é tanta que acaba acostumando. Quando está grandinho, ele mesmo procura as ervas para a dor de barriga e a dor de dente”, explica Galdino Cabral, 32, que não consegue livrar o filho da dor de dentes.

Pai e filho padecem do mesmo mal. Ambos já perderam toda a dentição e não conseguem tratamento odontológico, o que é uma raridade na localidade onde vivem.

Já na comunidade do Gume do Facão, com aproximadamente 120 habitantes, localizada às margens do rio Juruá, município de Carauari, as crianças sofrem com esse e outros problemas.

Enquanto os pais trabalham na roça, elas permanecem em casa, cuidando dos irmãos menores ou da comida deixada no fogão à lenha para o almoço.

Elas dificilmente sabem o que é café da manhã e, muitas vezes com fome, são mais suscetíveis a sofrer acidente doméstico.

A fatalidade aconteceu com os meninos José Gonçalves e Mateus do Amaral, ambos com sete anos, residentes em uma comunidade às margens do rio Jutaí, afluente do Solimões.

Eles sofreram queimaduras de terceiro grau quando a panela em que prepararam a comida família derramou sobre eles. Mateus e José foram encontrados  na casa deles, sem qualquer assistência médica.

Deitado no fundo de uma rede, as pernas do menino José eram tratadas com ervas tiradas do mato.

“Aqui a gente tem um agente de saúde, mas é o mesmo que não ter. Ela não sabe muita coisa, não tem remédio e ainda está com o salário atrasado. Aí a gente faz o que pode”, ressalta Alcides do Amaral, o resignado pai de Mateus.

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