A polícia dispersou hoje (19) com gás lacrimogêneo uma das manifestações de opositores ao governo de Nicolás Maduro, no centro de Caracas. O protesto pretendia chegar à sede da Defensoria do Povo. Em outra manifestação contrária ao governo uma pessoa foi baleada. As informações são da Agência EFE.
Membros da Guarda Nacional Bolivariana (GNB, polícia militarizada) dispersaram a concentração opositora na zona de Paraiso quando tentavam marchar para o centro, o que ocasionou o enfrentamento com alguns manifestantes, que responderam lançando pedras contra os agentes.
“Denunciamos um manifestante ferido de bala na Praça La Estrella de San Bernardino. #UnidosContraElGolpe”, afirmou em sua conta no Twitter o deputado Jorge Millán, em referência aos fatos ocorridos em outra zona do centro da cidade, dos quais não foram revelados detalhes, nem os autores do disparo.
Vários meios locais informaram que o ferido é um jovem de 19 anos, chamado Carlos José Moreno, que está sendo atendido no Hospital das Clínicas Caracas, centro privado de saúde próximo do local em que ocorreu o fato. Em sua conta no Twitter, a aliança opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) afirmou que, apesar da “repressão” em Paraiso, os cidadãos continuaram marchando.
Do local da marcha, que partiu da avenida El Libertador de Caracas, o deputado Henry Ramos Allup e o governador do estado de Lara, Henri Falcón, tentaram dialogar com funcionários da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) para que permitissem a passagem do protesto do leste ao oeste da cidade.
“Quer dizer que a oposição só pode se manifestar no leste? Isso não pode ser porque, por exemplo, eu sou deputado por Caracas e eu tenho direito a me manifestar em Caracas”, disse Ramos Allup aos agentes da PNB. O deputado indicou posteriormente aos jornalistas que explicou a um agente que sua intenção era entregar um comunicado perante a Defensoria do Povo.
“O oficial nos disse que um representante da Defensoria viria para onde estamos”, acrescentou o deputado, apontando que isto “não é suficiente” porque os venezuelanos têm direito a circular por todo o país.
Crise
Nesta quarta-feira, a Venezuela é palco manifestações a favor e contra o governo de Nicolás Maduro. Oposição e situação prometem ser a maior mobilização dos últimos tempos. Desde cedo, milhares de venezuelanos – convocados pelo governo – saíram as ruas da capital para comemorar os 207 anos do primeiro grito de independência contra o império espanhol. Vestidos de vermelho, eles protestam “em defesa da paz e da soberania”. Ao mesmo tempo, outras multidões – convocadas pela oposição – marcharam para denunciar o “golpe” do presidente Maduro.
As manifestações ocorrem em um momento de incerteza no país, com diversos protestos antigovernamentais que deixaram ao menos seis mortos – entre eles um agente policial – dezenas de feridos e mais de 500 detidos, dos quais mais de 200 estão privados de liberdade, segundo balanços da oposição e da ONG Fórum Penal Venezuelano.
Na véspera dos protestos, Maduro convocou os militares, as forças de segurança e também as milícias civis armadas para protegê-lo contra um suposto golpe de Estado que, segundo ele, estaria sendo tramado pelos Estados Unidos com o apoio de seus adversários.
O anúncio de Maduro repercutiu na vizinha Colômbia, que tem uma fronteira de 2,2 mil quilômetros com a Venezuela. O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, disse que alertaria a Organizaçao das Nações Unidas (ONU) para a “preocupante militarização da sociedade venezuelana”. Ele pediu à chanceler colombiana, Maria Angela Holguin, que está em Nova York, para tratar do tema nesta quarta-feira com as autoridades da ONU.
A Venezuela enfrenta atualmente uma séria crise econômica, marcada por uma inflação anual de 700% e escassez de medicamentos e alimentos. O país também está cada vez mais isolado internacionalmente e o governo é acusado de violar a ordem democrática.
A crise humanitária fez com que, entre 2014 e 2016, o número de venezuelanos que ingressam e permanecem no Brasil anualmente tenha aumentado mais de cinco vezes. O último levantamento da organização não-governamental Human Rights Watch, divulgado na terça-feira (18), mostra que mais de 12 mil venezuelanos ingressaram e permaneceram no Brasil desde 2014.