O dia começa cedo para a professora Lena Chaves, de 51 anos. Às 5h, ela já está de pé para tomar café com a família e seguir para apanhar o ônibus que a leva até o Centro de Detenção Provisória de Manaus 2 (CDPM2) no km 8, da BR 174. É lá que ela leciona as 12 matérias do Ensino Médio, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), para quatro turmas de apenados que buscam seguir os estudos no sistema prisional. “O desafio principal é tornar o aluno muito mais que um encarcerado e mostrar para ele que o processo educativo é um ponto do qual ele pode ter uma nova partida”.
Com 27 anos de docência, a professora acumula experiência no ensino regular, no ensino de internos do Centro Socioeducativo Dagmar Feitosa e, há oito meses, com os privados de liberdade na Escola Estadual (EE) Giovanni Figlioulo, que funciona nas dependências do CDPM2. Ela acredita que cada professor pode carregar consigo uma maneira de melhorar, de contribuir, de ampliar conhecimento para qualquer indivíduo.
“Meu recado para meus colegas do magistério é que eles procurem fazer com afinco essas atividades, que eles desenvolvam com carinho, com respeito, com ética e, acima de tudo, com bastante valorização ao indivíduo, ao ser humano. Essa valorização é fundamental na nossa etapa educacional”, diz Lena Chaves.
O professor Marcello Mello tem 17, dos 48 anos de idade, dedicados à docência. Filósofo por formação, o profissional diz que cada experiência o lapida para as diferentes realidades. “O papel da educação vai além, no sentido de reinseri-los socialmente, recuperar a dignidade e desenvolver a cidadania. Fundamentalmente, é pela educação que a gente muda o modo de pensar e ver das pessoas”, cita.
“É interessante perceber que a gente trabalha a interdisciplinaridade. A Filosofia depende da Língua Portuguesa, a Matemática depende da História, da Geografia, todas elas interligadas para mostrar uma visão mais humanista. O meu preparo vem desde o meu primeiro dia de aula, o tempo vai moldando. Às vezes, algumas coisas caem em desuso e a gente vai se atualizando, usando da sensibilidade para as adaptações”, reflete Mello, que está há um mês na modalidade.
Com um pouco menos de experiência na docência do que os colegas, Gabriela Trindade, de 31 anos, leciona no Centro de Detenção Provisória Feminino. Ela é natural do Pará e veio morar no Amazonas para lecionar no sistema prisional. Como professora, ele é entusiasta da transformação por meio da educação.
Lena integra o grupo de 38 professores que atuam no sistema prisional, cujo ensino se divide nas nove unidades de detenção. A Secretaria de Estado de Educação e Desporto e a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) atuam em parceria nesta modalidade de ensino.
Educação em prisões – A Secretaria de Estado da Educação e Desporto do Amazonas tem como competência ofertar Educação Básica aos jovens e adultos privados de liberdade nas unidades prisionais do estado do Amazonas, conforme preconiza a Lei de Execução Penal – Lei Nº 7.210/1984.
A garantia da implantação e/ou manutenção dessa oferta de educação na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), além dos benefícios advindos com a obtenção da melhoria do quadro educacional do indivíduo, estimula o apenado a concluir os ensinos Fundamental e Médio, visto que oferece a remição de pena como bonificação durante o cumprimento da mesma, propiciando, assim, através do estudo, o estímulo à cultura, à aprendizagem e à ressocialização.
Formação – No último dia 2 de outubro, a Secretaria de Educação, em parceria com a Seap e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), deu início a uma série de encontros formativos com professores que atuam dentro do sistema prisional do Amazonas. Nesta primeira etapa, 28 docentes da EE Giovanni Figlioulo puderam dialogar sobre a educação no processo de ressocialização e composição da cidadania e trabalho, além de debaterem sobre o conceito de educação e prisão.
A formação de professores permite que projetos educativos se construam com a política de desenvolvimento integral, compreendendo as necessidades e espaços de aprendizagem para a ressocialização das pessoas em situação de restrição e privação de liberdade, nas escolas públicas presentes nas unidades prisionais do Amazonas. Até o fim de 2020, outros nove encontros formativos devem acontecer, sempre às sextas-feiras, dias reservados aos trabalhos pedagógicos nas escolas.