Localizada a margem esquerda do caudaloso, romântico e encantador Rio Negro, a nova Praia da Ponta Negra, é irretorquível.
Sua arquitetura é de uma leveza celestial, impecável em todas as suas nuanças. Na mais perfeita sintonia com o conceito paisagístico, a simetria do projeto é impecável na sua sofisticação.
Resumindo: o projeto é de tamanha grandeza urbanística que nem mesmo o ex-prefeito Amazonino Mendes, autor da obra, com toda a sua enorme experiência, conhecimento, e bagagem cultural, seria capaz de imaginar que em alguma parte do planeta existissem pacaviras, palmeiras areca bambu, palmeira beriva, mini-alamandas, entre outras espécies exóticas, trazidas para embelezar a nova Ponta Negra.
Isso, entretanto, é o que menos importa. Afinal, tudo ficou muito bonito e lindo com a conclusão do projejo, inaugurado neste domingo, 22, pelo atual prefeito, Arthur do Carmo Neto (PSDB).
Financiada pelo governo federal e pela Corporação Andina de Fomento (CAF), a nova Ponta Negra de R$ 57 milhões ganhou novo anfiteatro, três mirantes, calçadão, espelho d’ água, chafariz, além de praia perene que custou só em areia R$ 12 milhões.
O calçadão é todo em pedras portuguesas. O Espelho D’água funciona com fonte músical e iluminação a LED.
Os cinco jardins são formados por dezenas de espécies nobres e raras da flora amazônica.
O Espelho d’Água foi ornamentado com palmeiras fênix e imperiais, dracena vermelha, bromélias imperiais, mini-ixórias, mini-alamandas, cana-da-Índia e bougainvilles.
O Anfiteatro, por sua vez, com palmeiras triangulares, palmeira areca bambu, pandanus, bromélias imperiais, palmeiras cyca revoluta, grama esmeralda e amendoim e russélia.
Além dos dois mirantes e uma torre de observação, a nova Ponta Negra ganhou dois restaurantes, três quadras de vôlei, 27 mil metros quadrados de calçadão, praça de artesanato, banheiro, estacionamento, e uma rotatória com chafariz, semelhante a que foi construída na primeira etapa.
Até aí tudo bem. Parabéns pro Amazonino! Parabéns para o Arthur!
Mas a pergunta que não que calar e que está entalada na garganta do povo é mais ou menos esta:
E o resto preeito, como anda a periferia, a Zona Leste, onde todo período de eleição candidatos das mais diferentes cores partidárias mendigam o voto de seus habitantes?
Se existisse resposta seria: em péssimo estado.
Vamos a um exemplo:
Econtraste com a nova Ponta Negra, entretanto, também na margem esquerda do Rio Negro, está a Manaus Moderna, construída, por Amazonino Mendes, governador do Amazonas, à época.
Cincidentemente, na Manaus Moderna, também, existe um mirante de frente para o Rio Negro de onde é possível ver não as bromélias imperiais, as mini-ixórias, as mini-alamandas, cana-da-Índia e bougainvilles, mas o lado oculto e cruel de uma cidade que machuca corações e ofende a inteligência a a dignidade do homem.
Improvisado em cima de uma velha caixa d’água e ocupado pelo vigia de um estacionamento de veículos, do mirante é possível ver um rio poluído, jovens dopados pelo crack e pela cocaína, o lixo, a sujeira, o trânsito atabalhoado, os tronbadinhas, enfim, a falta de atenção absoluta do poder público.
Ao longo dos calçadões de concreto rústico, não existem ciclovias, quadras para a prática do esporte e do lazer, restaurantes, praças iluminadas ou qualquer tipo de arborização.
E nem poderia haver. Afinal, na Manaus Moderna os trabalhadores recendem a suor, e vivem abaixo exalam a suor e vivem abaixo da linha da pobreza.
Nos calçadões da Manaus Moderna existe, sim, muito lixo, venda de alimento ao ar livre, sem qualquer fiscalização, crianças dedicadas à cata de migalhas, além do comércio aberto, livre para a venda e o consumo de drogas.
Na Manaus Moderna existe até uma cracolândia, onde jovens, na sua maioria – homens e mulheres – se reúem para o consumo e venda do oxi ou de pedras como chamam.
“Eu vendo por que sou consumidor. Vendo pra ter dinheiro para consumir”, defende-se um dos frequentadores da cracolância em conversa com o autor desta reporgagem, que baixou uma espécie de meia na coxa e exibiu uma boa quantidade de crack nela guardada.
– Você consome? indagou o viciado a um transeunte que passava pelo local.
– Sim, consumo. Respondeu.
– É R$ 10,00, vai? informou ao aproximar-se do comprador que lhe entregou a importância correspondente em troca de uma pedra de oxi.
Enquanto comercializava o produto, uma consumidora compulsiva aproximou-se, com um copo de rum na mão. Tirou do sutiã uma pedra de oxi e disse: “eu consumo mesmo. Taqui a pedra. Agora vou fumar”.
E não deu a mínima para ninguém e começou a enrolar em um pedaço de papel a pedra fragmentada, misturada em tabaco tirado de um cigarro.
Debaixo de um monte de papelão, onde se escondem, outros se afogavam na fumaça produzida pela queima da substância.
Ladrões, prostitutas, traficantes (aviões), viciados em cocaína, entre outros, fazem parte da mesma família de desvalidos que se espalham pelos calçadões da Manaus Moderna.
Os viciados cheiram sem esconder a cara. E enquanto viajam entorpecidos por um mundo que nem sempre tem volta não dão a menor importância para clic do fotógrado Sérgio Fonseca Junior.
A modernidade e os olhos do poder público está longe da Manaus Moderna.