A casa caiu de novo para Adail Pinheiro, prefeito eleito de Coari depois de preso pela Polícia Federal e ter o mandato cassado. Mas saiu de todas, incólume, apesar de um rosário de crimes que pesam contra ele como, por exemplo, o de pedofilia, que trouxe de volta a Manaus a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Federal, que investiga a exploração sexual de crianças e adolescentes, para ouvi-lo.
Para a presidente da comissão, deputada Erika Kokay, o prefeito não tem escolha e que se não comparecer para depor irá usar a força policial para que volte a se sentar no banco de réus.
Até aí tudo bem. O que muitos gostariam de saber, entretanto, é se outras figuras até então mantidas no anonimato, à exmplo do delegado de polícia Federal, Domingos Sávio, sentarão, também, no bando de réus.
Sávio, um personagem que passou incólume pelas investigações da Polícia Federal, embora tenha sido flagrado nas escutas telefônicas, gravadas pela própria PF, utilizou o esquema de Adail e de seus rufiões para obter favores sexuais.
Ao contrário dos demais envolvidos – juízes, promonter, jornalísta, assessores e tantos outros, Sávio não foi indiciado em nenhum processo, não foi afastado de suas funções e continua trabalhando normalmente, cumprindo mandado de prisão, etc. e tal, como se nada de grave tivesse acontecido.
Através de interceptações telefônicas gravadas pela PF durante a Operação Vorax, em 2008, fica claro que o delegado Sávio mantinha estreito relacionamento com o secretário de Governo do Município de Coari, Adriano Salan.
Ambos freqüentavam festas em Manaus e, mais grave ainda, costumavam participar de orgias na suíte executiva do motel Afrodite, onde Salan mantinha, na prática, seu escritório na capital.
O delegado da PF foi flagrado convidando uma amiga de Salan, de nome Carla, para encontrá-lo na suíte executiva do motel Afrodite.
Pelo teor da conversa, a moça deveria levar algumas amigas. Ela pergunta aonde. “No Afrodite, porra. Tu não sabe onde é o Afrodite”, diz o delegado.
Mais adiante, Sávio explica que “a gente está naquela suíte melhor, naquela maiorzona (sic)”.
No final da conversa, o delegado reforça o convite dizendo “Vem tu pra cá, pô. Ta bom pra caramba aqui”, deixando escapar algo que soa meio enigmático: “pepinão”.
Em outra conversa interceptada entre os dois, o delegado Sávio informa a Adriano Salan que ainda encontrava-se no Rio de Janeiro e, por isso, não poderia assistir ao show da banda Scorpius, que se apresentou em Manaus.
Entre amenidades, mas sem fugir ao seu caráter de cafajeste, Salan pede ao delegado um presente: “Uma carioca, parceiro, gostosa assim, top de linha, linda de praia, surfista”.
Depois o delegado diz não ter condições de ir ao show da banda Scorpius porque precisaria retornar ao Rio no dia seguinte, o que resultaria numa despesa de mais de R$ 1 mil com a compra de passagens aéreas.
É então que Salan, que não conhecia problema financeiro algum porque tinha como suporte o dinheiro do povo de Coari fala para Sávio: “Meu irmão, os amigos fazem cota pros amigos”.
Através da escuta não fica claro se o delegado veio a Manaus assistir ao show, mas Salan confirma viajem ao Rio de Janeiro para passear.
O delegado também recebeu outros convites de Salan para participar de festas, inclusive um para desfilar pela escola de samba Grande Rio, do Rio de Janeiro, que homenageou o município de Coari no Carnaval de 2008.
A princípio, Sávio esnoba o convite, mas Salan o convence a participar do desfile. A homenagem da Grande Rio a Coari foi o ápice da farra com o dinheiro público e deu oportunidade para Adail Pinheiro convidar muitas autoridades amazonenses, com todas as despesas pegas, para desfilar pela escola carioca.