Após dois anos da marcha, mulheres negras continuam mobilizadas contra racismo

A ideia de organizar a marcha surgiu em 2011, durante o Fórum Afro XXI. O encontro celebrava o Ano Internacional dos Afrodescendentes, declarado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2009.

Uma das idealizadoras da mobilização, Nilma Bentes, da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), relembra que a iniciativa foi sendo fomentada em conversas entre diferentes organizações. Anos depois, a pauta foi definida: Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver.

“Mesmo sabendo que o racismo, por si só, é uma violência, o termo foi incorporado para ressaltar a impunidade na matança de negros, sobretudo da juventude, pela mão da polícia; pelo sistema de saúde [em referência a grávidas e idosas]; e, ainda, porque o feminicídio tem atingido mais as negras. Já o Bem Viver foi incorporado para sinalizar que acreditamos na necessidade de mudança do chamado ‘modelo de desenvolvimento’, combatendo, portanto, a mercantilização-financeirização dos recursos naturais/bens comuns, o consumismo exacerbado, o lucro insano, o capitalismo neoliberal”, explica Nilma na introdução do livro Marcha das Mulheres Negras, publicado pela AMNB em 2016.

A diversidade de mulheres e organizações que atuam em defesa da população negra não impediu a unificação em torno da iniciativa. Ao contrário, tais especificidades definiram os contornos da marcha, que ganhou organicidade por meio do Comitê Impulsor Nacional e articulações semelhantes em diversos estados da Federação. Reuniões, debates, eventos para arrecadação de recursos foram realizados, resultando em um processo de aproximação.

No dia 18, em Brasília, essas mulheres chegaram ao auge do processo. A marcha trouxe à tona questões como discriminação, extermínio da juventude negra, precariedade do trabalho e alta incidência de violência contra as mulheres negras. A jornalista e uma das organizadoras da marcha em São Paulo, Juliana Gonçalves, relembra a importância do evento.

 

Depois do ato em Brasília, os comitês locais seguiram caminhos diferentes. Alguns mantiveram-se organizados. No Pará, na Bahia, em São Paulo, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, por exemplo, continuam existindo “marchas das mulheres negras”, movimentos que continuam promovendo atos, realizando debates para formação política e organizando quem já estava na luta e novas participantes. Em outros casos, a organização não se manteve, mas os vínculos permaneceram.

Em âmbito internacional, outras iniciativas têm sido levadas para comunicar a situação das mulheres negras e defender seus direitos. Os 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) que adotaram a Agenda 2030, composta pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), têm sido estimulados a adotar um olhar sobre as desigualdades de gênero e também raciais na abordagem de todas as 169 metas globais com foco nas pessoas, no planeta, na prosperidade e na paz mundial.

Para contribuir com isso, a ONU Mulheres lançou a iniciativa global “Por um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”, com compromissos concretos assumidos por mais de 90 países, entre os quais o Brasil. São passos importantes para enfrentar desigualdades e um desafio para todos no contexto atual, já que, depois de uma década de progresso lento, mas contínuo, em direção à igualdade de gênero, pela primeira vez foi constatado aumento das disparidades entre homens e mulheres no planeta, o que torna mais difícil a vida das mulheres negras.

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