Dnit descumpre prazo e pontes que desabaram no AM seguem interditadas

Os trechos onde duas pontes caíram na BR-319, no Amazonas, ainda não foram liberados para o trânsito de veículos. O Departamento Nacional de Trânsito (Dnit) havia se comprometido em liberar o tráfego até o último fim de semana, mas descumpriu o prazo. A queda das estruturas tem afetado mais de 100 mil pessoas e provocado desabastecimento.

O g1 entrou em contato com o órgão para saber se há uma nova previsão para a liberação dos trechos, e aguarda retorno.

A primeira ponte, que fica sobre o Rio Curuçá, desabou no dia 28 de setembro, deixando quatro mortos, 14 feridos e um desaparecido. A segunda estrutura, sobre o Rio Autaz Mirim, caiu no dia 8 de outubro. Ninguém ficou ferido.

Ponte Autaz Mirim da BR-319 desaba no Amazonas — Foto: Associação de Amigos e Defensores da BR-319/ Divulgação

Antes do primeiro desabamento, o Dnit sabia dos problemas estruturais da ponte sobre o Rio Curuçá. No entanto, manteve a estrutura aberta para o tráfego de veículos.

Na segunda-feira (24), agentes do Dnit trabalharam no aterro criado para a passagem provisória de veículos sobre o Rio Autaz Mirim. Sem a conclusão da obra, que é a única forma de acesso entre as duas margens, motoristas se arriscavam passando pelo local. Com o risco, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) interditou os acessos ao aterro.

Começam obras no Rio Autaz Mirim após queda de ponte na BR-319, no AM

No trecho do Rio Curuçá, uma rampa de acesso foi construída para que os veículos desçam, embarquem em uma balsa que fará a travessia para o outro lado, e sigam viagem.

Mas a balsa ainda não chegou ao local. Nos próximos dias, ela deve ser içada e colocada em uma carreta para ser transportada até o Rio Curuçá.

Prejuízos

Sem a conclusão das obras pelo órgão, a travessia de pedestres segue sendo feita por água. A Defesa Civil do Estado disponibilizou barcos para o transporte de pedestres, mas situação é precária.

Além de afetar mais de 100 mil pessoas, a queda das pontes tem provocado desabastecimento de alimentos e remédios em três cidades do Amazonas: Careiro da Várzea, Careiro – conhecido como Careiro Castanho – e Manaquiri.

“A minha moto ficou embaixo de um pé de mangueira do outro lado, porque aqui o acesso ainda não foi liberado. Mas é difícil tu subir e descer barranco. Não é fácil. Estou bem cansada”, disse a técnica de enfermagem Rosa Maria, que precisa atravessar a ponte sobre o Rio Autaz Mirim.

Agricultores de Careiro, no interior do AM, acumulam prejuízos com a interdição da BR-319

“Era pra ter sido mais rápido, até porque estou com um problema de saúde e preciso fazer tratamento, enfrentando o sol. Uma hora dessas era pra eu estar em casa. Triste a situação”, lamentou a agricultora Maria Socorro, que precisa fazer a travessia no trecho do Rio Curuçá.

Quem tem pousadas na região reclama do custo. “Uma das partes mais prejudicadas é a rede hoteleira. Os ‘kombeiros’ que trabalham na rede de transporte, também [são prejudicados]. Somos muito prejudicados e, além de tudo, os custos aumentaram pra nós. Qualquer carreta, eles estão duplicando valor das coisas e tudo”, comentou a empresária Karolaine Oliveira, proprietária de pousada.

Queda das pontes

As duas pontes desabaram na rodovia federal – a principal via de acesso terrestre do Amazonas para outras regiões do país, em um intervalo de dez dias:

  • No dia 28 de setembro, a ponte sobre o Rio Curuça despencou, deixando quatro mortos e mais de 10 feridos. Uma pessoa segue desaparecida.
  • Já no dia 8 de outubro, a apenas 2 quilômetros do local onde ocorreu o acidente, a ponte sobre o Rio Autaz Mirim desabou poucas horas após ser interditada. Ninguém ficou ferido.
As pontes Autaz Mirim e sobre o Rio Curuçá desabaram na BR-319, no Amazonas — Foto: Associação de Amigos e Defensores da BR-319/Divulgação e Wiliam Duarte/Rede Amazônica

As pontes Autaz Mirim e sobre o Rio Curuçá desabaram na BR-319, no Amazonas — Foto: Associação de Amigos e Defensores da BR-319/Divulgação e Wiliam Duarte/Rede Amazônica

Histórico e problemas

Criada durante a Ditadura Militar, a BR-319 surgiu com a proposta de integrar o Amazonas ao restante do país, mas sofre há décadas com falta de estrutura para tráfego. Durante a campanha eleitoral de 2018, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu asfaltá-la.

Passado mais de três anos e meio desde que Bolsonaro assumiu o cargo, a promessa de asfaltamento da BR-319 ainda não saiu do papel.

Questionado logo após a queda da ponte sobre o Rio Curuçá, o Ministério da Infraestrutura disse ao g1 que a declaração feita em 2019 por Bolsonaro “refere-se ao asfaltamento do lote C da BR-319/AM, que fica a aproximadamente 200 quilômetros do local do incidente [ponte sobre o Rio Curuçá]”, embora o presidente e a pasta não tenham deixado isso claro à época.

“O trecho de 405 quilômetros conhecido como “trecho do meião” recebeu em 28 de julho a licença prévia ambiental para as obras de reconstrução e pavimentação. Emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o documento aprova os estudos e viabilidade ambiental das obras. O próximo passo é a licença de instalação, que permitirá a contratação da obra, de acordo com as especificações constantes nos planos, programas e projetos aprovados pelo Ibama”, diz o restante da nota.

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