Blog do Reinaldo Azevedo – “O apoio institucional, financeiro e de pessoal ao combate à corrupção e ao crime organizado feito pela força-tarefa Lava Jato continuará, para que o patrimônio público seja preservado e a honestidade dos administradores prevaleça, pois o contraditório e a ampla defesa têm sido usados nas ações judiciais para assegurar que o trabalho, feito com qualidade e eficiência, e que passou pelo crivo de várias instâncias judiciais e do Ministério Público, esteja apto a produzir efeitos legais válidos”.
A fala acima é de Raquel Dodge, procuradora-geral da República, depois de encontro com membros da Lava Jato. Pela força-tarefa de Curitiba, estavam presentes Deltan Dallagnol, Julio Noronha, Roberson Pozzobon, Laura Tessler, Antônio Augusto Teixeira Diniz, Isabel Groba Vieira, Antônio Carlos Welter e Paulo Roberto Galvão. Pela PGR, além de Dodge, os procuradores Raquel Branquinho, Alexandre Camanho, Eliana Torelly, Mara Elisa e Oswaldo José Barbosa Silva.
É um discurso institucional e compreensível. Dodge vinha sendo cobrada a se alinhar com a Lava Jato. Ela o fez no limite aceitável, sem apelar ao corporativismo vulgar. O fato é que não veio à luz uma manifestação inflamada, como se a operação estivesse sob ataque dos “defensores da corrupção”, como quer o desorientado Sergio Moro.
Deltan, claro, se manifestou:
“Temos tranquilidade em relação ao que fizemos. Não ultrapassamos a linha ética. Somos um grupo grande que sempre decidiu em conjunto. Sucessivas pessoas passaram por lá, a atuação era técnica e legítima”.
Não ficou claro se estava se referindo a:
– receber do juiz indicação de uma testemunha contra o réu;
– sugerir expediente ilegal para forçar a pessoa a falar;
– marcar reunião para planejar fases futuras da operação com a PF e o juiz;
– admitir, ainda que de modo oblíquo, que planejou o PowerPoint para exacerbar com a retórica o que as provas não demonstravam;
– combinar com um colega uma estratégia de enriquecimento em razão da visibilidade conferida pela operação;
– atuar nas redes sociais como militante político…
– etc.
Informa a Folha:
Ainda segundo a nota, o corregedor-geral do Ministério Público Federal, Oswaldo José Barbosa Silva, disse na reunião que nunca houve “uma tentativa tão agressiva de minimizar o Ministério Público”. Ele informou aos procuradores que recebeu quatro representações com pedidos de apuração da conduta deles, depois da divulgação dos diálogos vazados, e arquivou todos com base na “imprestabilidade da prova”.
Pode parecer uma ofensiva, mas isso a que se assiste é o esperneio de quem não tem resposta.
Até porque não deixa de ser irônico que a Lava Jato corra para o colo de Raquel Dodge.
Os bravos membros da operação estavam lutando para tirá-la do cargo até outro dia.
Ocorre que o “Capitão” não se comprometeu com o corporativismo da turma e não garante que vá indicar para a PGR um nome saído da listra tríplice
Da noite para o dia, Dodge começa a ser vista pela turma como uma opção mais segura — justo ela, que a Lava Jato tinha como inimiga.
Dodge pediu explicações aos procuradores e tentou se certificar de que nada mais grave vem por aí.
Fato: não conseguiram lhe passar essa certeza.