O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse que “atualmente” não acredita que o Brasil possa passar por uma ruptura democrática. Afirmou que, quando falou sobre o assunto, estava apenas fazendo uma “análise de cenário” dentro de uma “cogitação futura e incerta”. As declarações foram feitas à Polícia Federal na última 3ª feira (22.set.2020).
O teor do depoimento foi revelado pela CNN Brasil na noite dessa 6ª feira (25.set). Eduardo Bolsonaro foi intimado na condição de testemunha em inquérito que investiga atos com pautas antidemocráticas.
Em live realizada em 27 de maio no canal Terça Livre, do blogueiro Allan dos Santos, Eduardo falou que “quando chegar ao ponto em que o presidente não tiver mais saída e for necessário uma medida enérgica [contra o STF], ele é que será tachado como ditador”. “Entendo essa pessoas que querem evitar esse momento de caos, mas falando bem abertamente, opinião de Eduardo Bolsonaro, não é mais uma opção de se, mas, sim, de quando isso vai ocorrer”, completou.
Questionado sobre as falas, o deputado federal disse que fez “uma análise de 1 cenário e não uma defesa de ideia” e que “inexiste qualquer tipo de organização voltada para a subversão da ordem democrática”. “O termo ação energética não se refere a nenhuma conduta específica, tão somente a uma atuação política mais efetiva. Ressalto ainda que não se trata de medida de intervenção militar ou de interferência em outros poderes”, declarou.
Eduardo falou sobre ter dito que que a ruptura institucional não é uma opinião de “se“, mas “quando“. “Minha declaração foi feita no contexto dos acontecimentos de divergência entre os poderes Executivo e o Judiciário, mas que atualmente não acredito que tal ruptura possa ocorrer”, disse.
ENCONTROS COM ALLAN DOS SANTOS
Eduardo foi questionado sobre sua relação com Allan dos Santos. A delegada Denisse Dias Ribeiro, que conduziu a oitiva e é responsável pelo inquérito, perguntou se o deputado participa de grupos de WhatsApp administrados pelo blogueiro.
Eduardo respondeu que “não se recorda se integra ou integrou esses grupos e que por ser pessoa pública é adicionado em diversos grupos independente da sua concordância”.
Allan dos Santos é responsável pelo grupo “Gengis House/QG Estado Maior“, usado para organizar reuniões semanais com o objetivo de “discutir temas relacionados ao governo federal”.
“Indagado se tem conhecimento da finalidade e periodicidade das reuniões na casa de Allan dos Santos, respondeu que desconhece a periodicidade dessas reuniões, mas que se recorda de ter participado de uma reunião em 2019 na casa de Allan, e que em tal encontro houve 1 bate papo de diversos temas”, declarou à PF. “Indagado quem pautava ou definia os temas que seriam discutidos, respondeu que desconhece, foi uma reunião desorganizada, sem ordem para falas ou de qualquer outro tipo de organização procedimental.”
O deputado falou que não tem conhecimento se Allan defende uma intervenção militar. “[Eu] Não cogito o emprego das Forças Armadas para tal fim”, disse Eduardo.
ATOS COM PAUTAS ANTIDEMOCRÁTICAS
Eduardo Bolsonaro negou qualquer envolvimento com atos de pautas antidemocráticas. Disse que nunca produziu ou repassou mensagens e materiais com conteúdos que incitassem a animosidade das Forças Armadas contra o STF ou Congresso Nacional.
“Indagado se conhece as pessoas responsáveis pela organização ou difusão dos eventos realizados em frente ao quartel-geral do Exército no dia 19 de abril de 2020, respondeu que não; indagado se de alguma forma participou, estimulou, organizou ou patrocinou, por qualquer meio citado, evento respondeu que não; indagado se de alguma forma participou, estimulou, organizou ou patrocinou por qualquer meio citado do evento respondeu que não; indagado se conhece as pessoas responsáveis pela organização ou patrocinou da ação realizada em junho de 2020 em frente ao Supremo Tribunal Federal em que foram disparados fogos de artifício em direção ao referido prédio, respondeu que não”, anotou a PF.
O deputado declarou que não produziu ou repassou material com conteúdo falso. Disse ainda que não orientou a produção desse tipo de conteúdo. “A Atlantic Council apenas pegou carona em uma falsa narrativa que opositores políticos e ideológicos do atual governo federal tentam construir diariamente, qual seja, a de insinuar que o grande alcance do governo Bolsonaro nas redes sociais é algo inorgânico e ou artificial”, afirmou Eduardo.
Em junho, o Facebook excluiu 88 contas e páginas que seriam ligadas a funcionários do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos, Flávio e Eduardo. Um assessor direto do presidente, Tercio Arnaud Tomaz (ex-assessor de Carlos Bolsonaro) foi apontado como 1 dos responsáveis pela administração de algumas dessas páginas. A exclusão foi feita com base em análise da Digital Forensic Research Lab, da Atlantic Council, que tem parceria com o Facebook.