Foliões e carnavalescos das agremiações do Grupo Especial se uniram num grande espetáculo de brilho, força e originalidade no último sábado (25), no Centro de Convenções Gilberto Mestrinho – Sambódromo.
O segundo dia do desfile das escolas de samba, promovido pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura, em parceria com a Comissão Executiva das Escolas de Samba de Manaus (Ceesma), levou milhares de fãs e simpatizantes ao local, na torcida pelas suas escolas de coração.
Na avenida, as agremiações lançaram mão de versatilidade e criatividade para driblar a crise econômica e exibir belos espetáculos.
“O que pudemos ver foi as escolas de samba, mesmo com as dificuldades financeiras, apresentando desfiles de qualidade, organizados, com muitos brincantes”, avaliou o secretário de Cultura, Robério Braga, para quem a superação foi a palavra de ordem do evento este ano.
“É a superação diante de uma situação de crise econômica e até de desestímulo das pessoas. O Carnaval sempre regenera o ânimo da sociedade brasileira. É uma festa extremamente rica, diversificada, característica do nosso País e que mobiliza todas as comunidades”, declarou Braga, destacando a organização e a segurança do evento, graças ao apoio de secretarias e instituições parceiras. “Foi um Carnaval nota dez”.
Neste ano, o Governo do Estado investiu diretamente no incentivo às escolas do Grupo Especial e dos Grupos de Acesso A, B e C. “Tínhamos a previsão de um apoio da iniciativa privada, o governador José Melo assumiu o compromisso com os carnavalescos em razão do apoio da iniciativa privada que não se concretizou. O Governo honrou o compromisso assumido”, informou Braga.
Os recursos disponibilizados para as agremiações do Grupo Especial foram de R$ 91 mil por escola, sendo R$ 31 mil desse valor investidos diretamente na infraestrutura do evento. Para os Grupos A, B e C, os aportes foram, respectivamente, de R$ 56 mil, R$ 46 mil e R$ 36 mil, sendo R$ 31 mil de cada reservados aos gastos com infraestrutura. Somente as escolas que atenderam as exigências do regulamento do desfile tiveram direito aos repasses.
Desfiles – Quem abriu a noite no Sambódromo foi a Sem Compromisso, que pisou na avenida às 20h05 para defender o tema “Eu tenho pra vender… Quem quer comprar?”. O desfile da escola, criada em 1978 como bloco carnavalesco e hoje sediada no Nova Cidade, zona norte, contou a história das feiras da Idade Média até os dias de hoje, destacando duas das maiores feiras populares de Manaus, a Feira da Banana e a Manaus Moderna.
Logo após foi a vez da Andanças de Ciganos, que levou as divindades do panteão greco-romano ao Sambódromo com o enredo “Na festa dos Deuses os Ciganos fazem o Carnaval”. Na avenida e nos carros alegóricos, os integrantes da agremiação surgida nos anos 1970, no bairro da Cachoeirinha, zona sul, encarnaram os deuses do Olimpo e os transformaram em foliões numa grande celebração carnavalesca.
O Nordeste do Brasil foi o tema que a Unidos do Alvorada escolheu para sua apresentação no Sambódromo este ano. Com o enredo “Meu ‘Padim’… Abençoai esse povo guerreiro filhos do chão rachado do Nordeste brasileiro”, a escola de samba vice-campeã do Carnaval passado fez uma homenagem ao homem nordestino e à sua cultura. A agremiação, porém, extrapolou em 5 minutos o tempo regulamentar de desfile, que é de 70 minutos.
Quarta agremiação da noite, a Reino Unido da Liberdade chamou a atenção para a importância da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente com o enredo “No Reino das fontes de vida, o Morro em movimento sustentável faz a diferença”. A escola do Morro da Liberdade, Zona Sul, deu o exemplo com fantasias feitas a partir de materiais recicláveis como garrafas PET, além de sementes, cipós e outros produtos regionais.
A Mocidade Independente de Aparecida reuniu seus foliões para celebrar os 300 anos da aparição da imagem milagrosa de Nossa Senhora Aparecida, com o samba-enredo “Gratia plena, Aparecida! 300 Anos no Coração do Brasil”. A agremiação contou a história da imagem, encontrada no rio Paraíba do Sul, no interior paulista, em 1717, e relembrou os subsequentes fenômenos milagrosos atribuídos à figura da santa padroeira do Brasil.
Em seguida foi a vez da Grande Família, fazendo uma comemoração dupla pelos seus 30 anos de trajetória no Carnaval amazonense e pelos 36 anos do seu reduto, o bairro São José Operário, na zona leste. Com o enredo “Grandes sonhos, Grande Família, Grande Circular… Meu São José, fonte viva de histórias e cultura popular”, a escola se voltou para suas raízes numa grande confraternização com foliões e torcedores da comunidade.
A Vitória Régia foi a penúltima escola a se apresentar no Sambódromo, defendendo o enredo “Olhos vendados, mãos firmes: a Verde e Rosa clama por Justiça”. Com mais de 40 anos de trajetória, a agremiação da Praça 14, Zona Sul, escolheu falar sobre a Justiça, enfocando o tema a partir de diversos aspectos, da chamada “justiça divina” à justiça dos homens, desfilando personagens como juízes, presidiários e até Xangô, o Orixá da Justiça.
Encerrando os desfiles do Grupo Especial no Carnaval 2017, a Vila da Barra entrou na avenida defendendo o enredo “Do proibido ao Sagrado: com a Vila desfrute o sabor do pecado”. A escola de samba da Compensa, Zona Oeste, enfocou as atividades ditas “pecaminosas” com um enfoque bem humorado e avesso às polêmicas. A maçã, o “fruto proibido”, foi destaque ao longo de todo a apresentação.
Anúncio das Campeãs – As escolas de samba campeãs do Carnaval 2017 serão conhecidas na próxima segunda-feira, dia 27, no Sambódromo, onde será realizada a apuração das notas dos jurados. A abertura dos envelopes será às 9h, para os Grupos de Acesso A, B e C, e às 11h, para o Grupo Especial. A contagem terá transmissão ao vivo pela Rádio e TV A Crítica e pela Rádio Difusora.
Excepcionalmente, este ano não haverá ascenso nem descenso de agremiações entre os grupos. A decisão da assembleia da Comissão Executiva das Escolas de Samba de Manaus (CEESMA), que agrega as escolas do Grupo Especial, foi motivada pela crise financeira que muitas delas atravessam. Antecipando a resolução da Comissão, a União das Escolas de Samba do Amazonas (Uesam), que reúne as escolas dos Grupos A, B e C, também definiu que não haverá ascenso nem descenso nesses grupos.
A decisão, por outro lado, não diminuiu a rivalidade entre as agremiações. “Continua a disputa pelo título, e esse ano não haverá mais empate entre escolas. Serão usados todos os critérios para desempate e definição de uma campeã”, declarou Jairo de Paula Beira-Mar, presidente da Ceesma e da escola de samba Reino Unido da Liberdade.