O juiz de paz Luiz Gonzaga Ferraz não precisou esperar pelo tradicional atraso da noiva para fazer o registro da união de Davi Bitencourt e Maria Poutrole, segunda-feira (26), num cartório de Tatuí, região de Sorocaba (SP). Depois de 70 anos esperando pelo casamento, o noivo, de 103 anos, e a noiva, de 90, foram pontuais.
A união oficial de um casal tão longevo chamou a atenção da cidade. Moradores e familiares saudaram os recém-casados na saída da repartição. Os noivos estavam vestidos de branco – ela, muito elegante, usava um colar de pérolas – e chegaram com a cuidadora do casal, a aposentada Ana Alice Soares, de 73 anos.
Foi ela que, nos últimos dois anos, dedicou-se a preparar a documentação para o enlace. Apesar da idade, Davi e Maria não precisaram de ajuda para descer do carro, entrar no cartório e realizar um sonho. No momento crucial, até que ele hesitou, mas por conta da surdez. Sem entender o que o juiz havia dito, precisou de um assopro da mulher para responder o “sim”.
O casal, que mora numa pequena casa cedida por Ana Alice, no bairro Boqueirão, próximo do centro de Tatuí, não quis festa. “Ofereci um jantar para eles num restaurante, mas preferiram ir para casa”, disse a madrinha.
Ela conta que havia ficado viúva quando conheceu a paulistana Maria, que procurava um lugar para morar no interior. Coincidiu que um filho de Ana Alice tinha se mudado para uma cidade vizinha e a casa dele ficara vaga. A partir daí, ela passou a cuidar dos idosos voluntariamente. Foi quando eles revelaram o interesse de se casarem.
Davi já havia sido casado em São Paulo, teve um filho e ficou viúvo muito jovem. Quando conheceu Maria, ele era advogado do sindicato dos cafeicultores da época. Os dois passaram a morar juntos na capital e tiveram um filho, Maurício, hoje com 58 anos.
Em viagem à Bahia, o filho não compareceu ao casamento. O casal vive do salário mínimo que Maria recebe de aposentadoria. O casamento desejado por eles só aconteceu graças ao empenho de Ana Alice. “Eles não tinham os documentos, nem dinheiro e precisei correr atrás. A certidão de óbito da ex-mulher dele estava em Curitiba.” A madrinha explica porque se dedica ao casal de idosos. “No Natal, perdi uma irmã muito querida e eles preenchem esse vazio.”
Por José Maria Tomazela – Sorocaba