Este ano o Instituto Federal do Amazonas (IFAM) inovou no acesso dos indígenas à educação profissional e tecnológica. Em uma ação inédita no Brasil, candidatos indígenas dos municípios de Maués (distante 253 km de Manaus) e São Gabriel da Cachoeira (distante 851 km de Manaus) tiveram a oportunidade de realizar a redação do Processo Seletivo do IFAM em língua indígena.
Com 43 candidatos inscritos, o IFAM Campus Maués ofertou o curso técnico de Nível Médio Integrado, EJA/Proeja/Indígena em Agroecologia. O curso atende a demanda da comunidade e por meio da pedagogia da alternância, promove a interculturalidade, respeito à cultura tradicional indígena e troca de saberes. O Processo Seletivo foi realizado em duas etapas: prova de redação a ser realizada na língua portuguesa ou na língua indígena e entrevista com o candidato.
Em Maués, o IFAM teve apoio do Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé na comissão de avaliação dos candidatos e com o tema “A origem do povo Sataré-Mawé” sorteado pelo Tuxaua Josibias Alencar dos Santos.
Segundo o reitor do IFAM, Antonio Venâncio Castelo Branco, a oportunidade de realizar a redação em uma língua indígena é ampliar o acesso de mais jovens e adultos a Educação Profissional. “Esta ação faz com que a língua seja mais valorizada e tenha sua importância reconhecida. Somos um estado com forte presença indígena e não podemos fechar os olhos para esta parcela da população que anseia por oportunidades de qualificação acadêmica e profissional”, destacou Castelo Branco a cerca da redução dos entraves e o avanço nas políticas públicas sobre as questões indígenas.
Experiência em território Sateré-Mawé
Da Ilha Michiles, localizada no rio Marau, em Maués, a candidata Joziane Santos, 18 anos, agradeceu a oportunidade de ter a qualificação profissional sem deixar o local onde vive. “Poder estudar aqui na comunidade sem ter que abandonar a família é algo muito positivo, já que enfrentamos muitas dificuldades ao sair da aldeia para estudar na zona urbana”, disse ela.
Segundo o professor indígena, Inácio Cristiano, o ineditismo da ação faz com que políticas públicas de educação cheguem de fato a todos os cidadãos brasileiros. “Estamos ‘derrubando muros’ com a oferta de um curso do IFAM em território Sateré-Mawé e, principalmente, realizando o sonho destes jovens em poder continuar com os estudos e contribuir com a aldeia por meio do curso em Agroecologia”, ressaltou.
“Implantar um curso em área indígena é um marco histórico para o município de Maués”, disse o diretor-geral do IFAM Campus Maués, Elias Souza. “É nítida a ousadia e o grande desafio na implantação deste curso, porém temos o compromisso, enquanto Rede Federal de Educação, de levar um ensino público, gratuito e de qualidade aos povos mais distantes desse país”, ressaltou.
Oficialização de uma língua cooficial
Localizado na tríplice fronteira entre Colômbia e Venezuela, São Gabriel da Cachoeira foi o primeiro município no Brasil a cooficializar as línguas indígenas Nheengatu, Tukano e Baniwa. O município atualmente possui aproximadamente 45 mil indígenas de 23 etnias diferentes.
Em março deste ano, o Campus São Gabriel da Cachoeira iniciou a primeira turma de nheengatu – ou língua oficial – por meio do Centro de Idiomas. O objetivo é que servidores do campus possam atender aos alunos indígenas matriculados e produzir materiais didáticos na língua indígena. O curso é ministrado pelo professor indígena, Edilson Martins Melgueiro ou Kadakawali seu nome indígena na língua baniwa.
No Processo Seletivo 2018/1º semestre, o IFAM Campus São Gabriel da Cachoeira ofertou 265 vagas distribuídas entre os cursos de Administração, Informática, Agropecuária, Secretaria Escolar e Enfermagem, tanto na forma Integrada (quando o aluno estuda o Ensino Médio e o curso técnico ao mesmo tempo) quanto na forma Subsequente (candidatos com Ensino Médio concluído e que desejam apenas a formação técnica).