247 – A Igreja Católica começa a reagir à ação de espionagem do governo Bolsonaro contra o Sínodo da Amazônia que terá como ponto culminante um encontro no Vaticano em outubro. O bispo da prelazia de Marajó (PA), dom Evaristo Pascoal Spengler, um frade franciscano, protestou: “Isso é um retrocesso que só vimos na ditadura militar”, protestou. O secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Leonardo Steiner, também franciscano, gravou um vídeo que está na página oficial da entidade (aqui) no qual afirma que o encontro é da “da Igreja para a Igreja” e “envolve toda a questão da Pan-Amazônia: os povos, o meio ambiente”. O escândalo já repercute internacionalmente. Na Itália, o jornal Il Fatto Quotidiano destacou em sua edição desta quarta-feira: “Bolsonaro teme o Sínodo sobre a Amazônia. Medo que a Igreja critique o governo: serviços secretos espionam bispos e padres” (aqui).
Em entrevista ao jornalista Bernardo de Mello Franco (aqui), o bispo de Marajó disse que não cabe ao governo monitorar os debates da Igreja que o clero já suspeitara da presença de arapongas numa assembleia em Marabá. Dom Evaristo afirmou que esclarece que a Igreja “não é neutra”, o que não significa que tenha partido. “A Igreja está do lado dos mais fracos, dos mais pobres, dos ribeirinhos e dos indígenas”.
Na entrevista, o franciscano disse ainda que o governo Bolsonaro defende interesses econômicos contra os povos da Amazônia e a floresta: “Estão incentivando um modelo predatório de desenvolvimento, que extrai as riquezas da floresta e deixa a população na pobreza”.
O secretário-geral da CNBB lembrou em seu vídeo que o encontro convocado pelo Papa Francisco não envolve apenas o Brasil, mas nove países que integram a região da Pan-Amazônia. O documento preparatório da Igreja para o Sínodo define a Amazônia como “uma região com rica biodiversidade, é multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, um espelho de toda a humanidade que, em defesa da vida, exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres humanos, dos Estados e da Igreja”.