Injeção que Anderson admite ter tomado tem substância parecida, mas não igual às do doping

“Pô, mas eu não tomei cara. Tomei anti-inflamatório. Liga pra Daiane, pede pra ela te dar os negócios que tomei. Tomei Dexalgen três dias. Foi a única coisa que eu tomei.”

Em meio à toda produção necessária para as filmagens do reality show The Ultimate Fighter, essas foram as palavras mais reveladoras ditas por Anderson Silva em seu momento de surpresa quando informado ter sido pego em exame antidoping. Pela primeira vez, o lutador deu uma pista do que estava tomando antes do duelo contra Nick Diaz.

Mas o que é Dexalgen? Ele poderia de alguma forma ter causado o doping do ex-campeão dos pesos médios?

Aparentemente, a resposta da segunda pergunta é não. O Dexalgen é um remédio como todos os outros, encontrado em farmácias normais. Algumas delas, só o vendem sob prescrição médica. Outras, vendem mesmo sem o pedido do especialista. Ele é um anti-inflamatório em forma de injeção – e que por isso tem um efeito um pouco mais rápido que comprimidos – e custa entre 30 e 40 reais, em média.

Em conversa com o ESPN.com.br, a farmacêutica Maria Eline Matheus explicou que os componentes do Dexalgen podem sim gerar uma substância muito parecida com as encontradas no exame antidoping de Anderson. Mas essa substância não é nem a Drostanola e nem o Androstano encontrados nos testes.

“O Dexalgen é classificado como anti-inflamatório esteroidal (AIES) porque contém a substância Dexametasona, que pertence a família dos corticosteróides, mais especificamente, aos glicocorticóides, estes, sim, apresentando efeito anti-inflamatório. Além dela, o remédio contém também a vitamina B12, extremamente importante (assim como as outras do complexo B) como um “combustível” bioquímico, e a dipirona, um excelente antitérmico-analgésico, mas desprovido de efeito anti-inflamatório”, explica.

“As substâncias Drostanolona e Androstano, são esteroides anabolizantes. Ou seja: apresentam uma estrutura molecular esteroidal semelhante à dexametasona. Mas a molécula da dexametasona não se transforma em Drostanolona e em Androstano”, complementa.

Maria Eline ainda explica que a substância tem vida útil no organismo de até 36 horas e que o uso por três dias, como Anderson disse ter feito, pode deixá-la no corpo por mais três ou quatro dias depois do fim do tratamento. Isso, claro, sem contar a interação do remédio com outros remédios ou até mesmo com os suplementos. Essa interação poderia aumentar ou diminuir o tempo de dexamestasona no organismo.

O remédio usado não deve servir como álibi para Anderson. Até por isso, o próprio lutador já admitiu em seminário ministrado no Rio de Janeiro que não sabia muito bem o que poderia ter causado o doping e que desconfiava de um de seus suplementos. Uma resposta mais clara só poderá ser conhecida – se é que será conhecida um dia – no julgamento do lutador, que deverá acontecer em maio, perante à Comissão Atlética de Nevada.

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