Israel e o Hamas negociavam nesta quinta-feira um cessar-fogo duradouro para colocar um ponto final a dez dias de confrontos sangrentos no reduto palestino de Gaza, onde foram retomados os bombardeios israelenses após cinco horas de trégua humanitária.
“Estão sendo feitos esforços, mas não há acordo por enquanto”, declarou à AFP o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, que classificou de incorretas as informações de um funcionário de alto escalão israelense que apontavam para um acordo de cessar-fogo a partir de sexta-feira.
No Cairo, as autoridades egípcias que atuam como mediadoras entre Israel e o Hamas não podiam até o momento confirmar um acordo. Segundo Hazem Abu Shanab, um funcionário do Fatah, o movimento do presidente palestino Mahmud Abbas, “há algo sobre a mesa, mas não está fechado”.
O movimento Hamas, que controla a Faixa de Gaza, havia rejeitado no início da semana uma primeira iniciativa de cessar-fogo formulada pelo Egito e aceita por Israel.
As reivindicações da organização islamita não mudaram, segundo seus líderes: o levantamento do bloqueio de Gaza, em vigor desde 2006, a abertura da fronteira com o Egito e a libertação de dezenas de presos palestinos.
No âmbito internacional, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou nesta quinta-feira Israel de querer cometer um genocídio sistemático contra os palestinos na Faixa de Gaza, onde ao menos 235 palestinos morreram em bombardeios israelenses desde 8 de julho.
“Os países ocidentais ficam em silêncio, assim como o mundo islâmico”, acrescentou Erdogan, que também criticou as Nações Unidas.
Mais de 75% das vítimas são civis, segundo a ONU.
Retomada dos ataques
Após a trégua de cinco horas nesta quinta-feira entre os dois grupos para permitir o abastecimento da população, o lançamento de foguetes de Gaza e os bombardeios contra este reduto palestino de 360 km2 foram retomados.
Três crianças da mesma família morreram em um ataque israelense no bairro de Sabra, no centro de Gaza, declarou à AFP Ashraf al-Qudra, porta-voz dos serviços de saúde palestinos.
Os dois grupos respeitaram a trégua, embora tenha sido registrada uma troca de morteiros entre o reduto palestino e o exército israelense, que deixou um soldado ferido.
Ao amparo desta trégua as ruas de Gaza, onde as cicatrizes dos bombardeios eram visíveis, lotaram rapidamente de pessoas, que passaram vários dias dentro de suas casas para se proteger dos ataques.
“A trégua permite que as pessoas saiam, tirem dinheiro, façam compras”, ressalta Abdel Qasam Ataneh, que, como dezenas de moradores de Gaza, se dirige a um banco para sacar dinheiro.
Israel acusa os combatentes do Hamas de utilizar civis como escudos humanos neste minúsculo território, onde 1,2 milhão de pessoas vivem na miséria, submetidas há anos a um bloqueio israelense.
Minutos antes do início da trégua humanitária, um tanque israelense disparou contra uma casa no sul de Gaza matando três palestinos.
Além disso, o exército israelense anunciou ter frustrado uma tentativa de infiltração em seu território de um comando palestino, através de um túnel a partir de Gaza. Um dos homens morreu.
Durante os dez dias de conflito, 1.200 foguetes foram lançados de Gaza contra o território de Israel, provocando a morte de um civil israelense.
As Nações Unidas informaram nesta quinta-feira que seus funcionários descobriram 20 foguetes em uma escola vazia administrada por eles na Faixa de Gaza.
Esta última espiral de violência foi desencadeada após o sequestro e o assassinato de três estudantes israelenses em junho, que Israel atribui ao Hamas, seguidos pelo assassinato de um adolescente palestino, queimado vivo em Jerusalém por extremistas judeus.
Como consequência do conflito, a UEFA anunciou a suspensão de todas as partidas da Liga dos Campeões e da Europa League em Israel até nova ordem.