Jovem de escola pública se inspira na ONU e cria projeto de lei

Lenice Ramos Oliveira ainda não sabe se vai prestar vestibular para Jornalismo ou Relações Internacionais, mas tem uma certeza: quer transformar a sociedade em que vive.

Estudante colégio Atheneu (Centro de Excelência Atheneu Sergipense), escola pública de período integral de Sergipe, a jovem descobriu a sociologia, os debates e a importância de lutar por um ideal. “Eu queria muito estudar no Atheneu porque além de ser a escola mais antiga do estado, meu pai tinha estudado lá, um forma de me conectar com ele”, conta a jovem que mora com a mãe e uma irmã, o pai faleceu.

“Descobri a sociologia, com ela os debates nas simulações das assembleias da ONU (Organização das Nações Unidas) nas aulas do professor Yuri Norberto, meu mentor”, diz. “No segundo ano, participei de todo o planejamento do simulado, passei as férias na escola organizando o evento, mas veio a pandemia, então, tivemos de criar uma solução para atrair a atenção de todos.”

O jeito foi convidar figuras de expressão nacional e influenciadores para participar do Atheneu ONU, entre os convidados, a empresária Luiza Trajano, que comanda o Magazine Luiza. “Eu era uma das poucas meninas no evento online e ela olhou pra mim e disse: ‘honre o seu lugar’, aí percebi que poderia fazer muito mais.”

A partir daí ela desenvolveu um projeto só com a presença de meninas e mulheres. Com direção 100% feminina, o Atheneu ONU Mulheres trouxe discussões sobre o contexto feminino no Brasil, refletindo sobre o aumento da violência contra as mulheres na pandemia e a necessidade de maior representatividade na sociedade. Além dos eventos online, também foram gravados podcasts.

Sob o impacto das experiências dos eventos e debates, Lenice, como ela diz, “saiu da bolha”e participou do Parlamento Jovem Brasileiro, um programa nacional em que os jovens podem criar projetos de lei para serem apresentados em Brasília.

O projeto da adolescente foi o “Absorvente é direito”, foi pensado na pobreza menstrual dentro das penitenciárias femininas, destinado às mulheres que não recebiam materiais básicos de higiene íntima. A ideia era implementar uma obrigatoriedade do governo federal e dos estados em fornecer kits com absorventes, papéis higiênicos e lenços umedecidos para os cuidados pessoais.

Lenice foi uma das quatro pessoas pré-selecionadas da etapa estadual, conquistando o segundo lugar na fase nacional. “Confesso que fiquei triste de não ter levado o primeiro lugar, não pela colocação, mas pelo projeto em si, então, reformulei com foco na doação de produtos de higiêne para estudantes de escolas públicas em situação de vulnerabilidade.”

Ano que vem, após os vestibulares e o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), Lenice deve focar nos programas da ONU para jovens.

Artigo anteriorCalheiros alfineta Bolsonaro: “Só conseguiram curar a obstrução do intestino. O resto continua como antes”
Próximo artigoBolsonaro deveria dizer que irá vetar fundão, diz deputado Marcelo Ramos