Construída na orla do Rio Negro para desafogar o trânsito de veículos pesados entre o Porto de Manaus e o Distrito Industrial, a Manaus Moderna, hoje, é palco dos mais tristes, lamentáveis e deprimentes espetáculos roteirizados na exploração humana.
Por algum dinheiro – logo repassado ao dono da taberna, por conta dos goles de cachaça que os tornam “gigantes” -, os pés-descalços da Manaus Moderna submetem-se, heróicamente, sem nada reclamar, ao peso desumano e insuportável de cargas encaixadas em suas costas como se as mesmas fossem lombos de animais de tração.
À essa explicita forma de exploração oficial, dependentes químicos suportam na cabeça peso superior a 120 kg para deixar com o traficante de cocaína, maconha, oxi, pasta básica e crak, os poucos reais arrecadados para se entorpecer e, por alguns instantes, fugir da triste sina que os perseguem desde sempre.
O drama principal, entretanto, em cartaz havia mais de 30 anos, infelizmente, é representado por crianças e adolescentes – os brasileiros sem nacionalidade, os cidadãos sem cidadania, os desagregados da sociedade.
Enquanto deputados do contra e a favor, do lado de cá e do lado de lá, se esgrimam na Assembleia Legislativa para instalar uma CPI da Pedofilia para saber se o maroto Waldery Areosa e o seu filhinho do coração, o coitadinho do deputado Fausto, e outra penca de engravatados são pedófilos, na Manaus Moderna a exploração sexual de crianças e adolescente corre frouxo.
Meninas, entre 10 a 16 anos, “perambulando”, digamos assim, na Manaus Moderna, com o consentimento e o incentivo de suas próprias mães, são vistas a qualquer hora do dia à busca de um programa.
– Vai lá com ele. Pede mesmo. Ele é doido por ti, dizia uma mulher, sugerindo a uma de suas duas filhas que pedissem dinheiro a um homem, provavelmente um dos comerciantes intalado naquele local.
Minutos depois as duas estavam de volta.
– Ele não estava lá. Depois a gente volta e bate na porta dele, dizia a mais velha, roupas (short) reduzidas que, ao perceber que era fotografada, fez pose descontraída e disse ao repórter com um doce e sedutor sorriso: “oi, tudo bem”?
Logo que as pré-adolescentes se afastaram da mãe, o repórter aproveitou para uma abordagem profissional.
– A senhora é mãe daquelas meninas?, perguntou.
– Sim, sou, respondeu.
– Elas fazem programa? indagou, novamente, o repórter.
– Fazem, sorriu.
– E a senhora, faz o quê? insisitiu o comunicador.
– Vendo droga.
Cerca de uma hora depois, uma das meninas, a que parecia mais velha, foi abordada por um homem que dirigia uma pampa branca. Os dois conversaram. Minutos depois, ela entrou no carro e saíram.
Normalmente, os alvos das meninas que frequentam a Manaus Moderna são os donos e tripulantes de embarcações ancoradas naquele local.
Os que foram indagados a respeito das meninas em suas embarcações, eles disseram que “está tudo bem”, “que não existe maldade e que as recebem “apenas” para lhes dar comida – argumento quase sempre seguido de um mau disfarçado sorriso.