A avifauna Amazônica e Brasileira, segundo a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTIC), Camila Ribas, é pouco conhecida e precisa ser direcionada aos lugares e regiões que sofrem maior ameaça pelos projetos de desenvolvimento, como as barragens para geração de energia hidroelétrica.
Em Mesa-Redonda sobre os Desafios Nacionais para a Conservação da Biodiversidade, na quinta-feira (20), na 69ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ribas falou sobre as principais pesquisas desenvolvidas para se conhecer a diversidade amazônica a fim de ajudar no planejamento voltado à conservação. O pesquisador do Inpa, Adalberto Val, coordenou a Mesa, que contou com participação de pesquisadores de outras instituições (Dr. Carlos Joly, UNICAMP e Dr. João Stehmann, UFMG).
A SBPC é o maior evento de divulgação científica da América do Sul. Neste ano acontece até sábado (22), na Universidade de Minas Gerais (UFMG). O Inpa participa da reunião com palestras, congressos, apresentação da Camerata de Ukulelê e com o estande, onde o visitante pode conhecer pesquisas, frutas, essências de plantas amazônicas e tecnologias da Instituição.
Para Ribas, um dos maiores desafios para a conservação da Amazônia é, inicialmente, conhecer as espécies e suas distribuições, e esse conhecimento só pode ser desenvolvido se for baseado em coleções biológicas. Hoje há poucas coleções biológicas na Amazônia, e mesmo as existentes carecem de investimentos contínuos. A ciência precisa de mais apoio para dar conta de representar a mega biodiversidade da região e poder subsidiar estudos para melhor compreensão dos padrões de taxonomia (identificação), distribuição, endemismo (específico da área) e diversidade das espécies amazônicas.
“Só essa informação existindo, com base nos acervos das coleções, é que ela poderá ser usada nos esforços de conservação”, destaca Ribas, que é vice-gerente do Programa de Coleções Científicas Biológicas (PCCB) do Inpa. O Instituto, junto com o Museu Paraense Emílio Goeldi, constituem as maiores referências para estudo da biodiversidade da Amazônia, representada por suas coleções científicas, com exemplares e amostras dos vários acervos reunidos no decorrer de mais de 50 anos de inventários e pesquisas.
Sistemas de informações
No Brasil são empreendidos esforços integrados para melhorar o conhecimento sobre a biodiversidade, principalmente por meio de iniciativas governo Federal, como o Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (Sibbr). Por outro lado, segundo a pesquisadora, isso não pode ser desvinculado de um fortalecimento do sistema de coleções das instituições.
“As instituições precisam ser capazes de fornecer dados de qualidade para esses sistemas de informações. Para isso, precisam ter bons acervos, bem curados, com pessoal especializado capaz de manter esses acervos e de revisar as informações contidas neles”, destaca Ribas.
Ainda conforme Ribas, não adianta ter grandes bancos de dados se não forem de qualidade, porque as informações que vêm de análises baseadas em bancos de dados com informação incorretas serão inexatas e podem, ao contrário, atrapalhar os esforços de conservação,por exemplo subestimando a diversidade de algumas regiões vulneráveis.
Um exemplo de informações insuficientes são os dados sobre a avifauna especializada em ambientes alagáveis da Amazônia (como várzeas, ilhas, igapós), que é tida como uma avifauna uniforme e pouco diversa. Estudos em andamento, baseados em amostragens densas, usando acervos de várias coleções, mostram o contrário. Na verdade existe muita diversidade e endemismo nessa avifauna, e é preciso conhecer para se ter um planejamento energético adequado para a região.
As pesquisas sobre o impacto potencial das barragens sobre os ambientes alagáveis na Amazônia foram desenvolvidas por um grupo internacional de pesquisadores e publicadas no último mês de junho na revista Nature. Elas mostram que as sub-bacias amazônicas mais vulneráveis às barragens coincidem com as áreas de maior diversidade de aves, árvores e peixes.