Reinaldo Azevedo – O ex-presidente Michel Temer se negou a prestar depoimento nesta sexta na Superintendência da Polícia Federal do Rio e fez questão que constasse nos autos o motivo: se é considerado chefe de quadrilha há 40 anos, quando nem exercia cargo público, não há o que dizer — não nesta fase. Não custa lembrar: Temer nem réu é ainda. Sua defesa entrou com pedido de habeas corpus junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Caso venha a ser negado, ainda resta o Supremo. T
O presidente tem advogados, claro!, mas é bom lembrar que ele é professor de direito, ainda que sua área seja o constitucionalismo. Conhece as regras. Pode escolher o silêncio. E me parece ser mesmo o mais prudente. Sobre o que vai falar o ex-presidente?
Vão lhe perguntar se ele é chefe de uma quadrilha desde os 36 anos, quando era professor de direito numa faculdade em Itu?
Será indagado sobre acusações de supostos crimes cometidos há 40, 39, 38, 37 anos?
Vão querer saber detalhes sobre o tal R$ 1,8 bilhão que sua dita quadrilha teria, de algum modo, movimentado ao longo de quatro décadas — acusação de fazer inveja a inquéritos de tiranias que entraram para a história, tal a sua alucinação?
O que tem a dizer um ex-presidente num depoimento dessa natureza depois de um pelotão de fuzilamento ter passado algumas horas diante das câmeras a demonizar um acusado, preso preventivamente, que nem réu é ainda?
Tudo não passaria de um mero ritual de humilhação. Seria obrigado a ouvir, aí na forma de perguntas, as mesmas barbaridades com que procuradores e delegados procuraram mesmerizar a opinião pública na sua entrevista-espetáculo? Seria como coonestar um espetáculo grotesco de truculência.
Ou bem nos damos conta da loucura que tomou conta desses setores ou, acreditem, não temos saída. Não há desfecho virtuoso para isso.
Sobre o que deveria falar Temer? Sobre esta afirmação de Eduardo El-Hage, coordenador da Lava Jato no Rio? Leiam:
“É preciso deixar claro aqui que estranho seria se Michel Temer não tivesse sido preso. A prisão dele é decorrência lógica de todos os crimes que ele praticou durante uma vida inteira, pertencendo a uma organização criminosa muito sofisticada”.
Por que Temer deporia, nesta fase, no âmbito de uma investigação que, no fim das contas, nada tem a ver com a sua prisão, que teria sido decretada de qualquer jeito, como foi, pouco importando o que está nos autos? Ela já estava, como se vê, decidida.
Não há por que falar. Haverá o tempo para isso. Quando houver, ao menos, a formalização da denúncia.