Ocupada há um ano, central nuclear de Zaporíjia se tornou uma base militar da Rússia na Ucrânia

Soldado russo patrulha um dos prédios da central nuclear de Zaporíjia, na Ucrânia Andrey Borodulin / AFP

A central nuclear de Zaporíjia, no Sul da Ucrânia, deixou de gerar eletricidade e hoje serve apenas como base das tropas russas que a ocuparam há um ano, afirma o prefeito no exílio de Enerhodar, onde fica o gigantesco complexo.

O Exército russo ocupou as instalações no dia 4 de março de 2022, dias depois do início da invasão.

— Durante esse ano de ocupação, transformaram a maior central nuclear da Europa em base militar — disse à AFP o prefeito Dmytro Orlov, de 37 anos, que diz acreditar que os russos sabem que “os ucranianos não vão disparar” contra o local para evitar um acidente.

Segundo ele, os russos usam a central como um “escudo nuclear para armazenar material militar, munição e tropas”.

Pelo menos mil militares russos estão na usina em Enerhodar, onde a população local passou, em um ano, de 53 mil “para cerca de 15 mil”, segundo o político. Desde abril do ano passado, ele mora em Zaporíjia, a cerca de 120 km de Enerhodar, e diz manter contato regular com os habitantes que ainda moram na cidade.

— A maior parte das forças de ocupação está na central porque ali se sentem seguros — disse Orlov.

O número de trabalhadores na central também despencou, passando de 11 mil para 6,5 mil hoje, revelou à AFP o operador nuclear ucraniano, a Energoatom.

Milhares de empregados seguiram para territórios controlados por Kiev e, entre os que ficaram, cerca de 2,6 mil aceitaram “colaborar com o agressor” russo, afirma a Energoatom.

— Há um verdadeiro problema de pessoal, o que impacta também a segurança — afirma Orlov, segundo quem os trabalhadores estão sob pressão dos russos e obrigados a trabalhar com equipes reduzidas e sem folgas.

A central, que antes da guerra produzia 20% da eletricidade da Ucrânia, seguiu funcionando durante os primeiros meses da invasão, apesar dos bombardeios, antes de ser completamente paralisada em setembro.

Desde então, nenhum de seus seis reatores VVER-1000, criados nos tempos da União Soviética, produz energia, mas a instalação segue conectada ao sistema energético ucranano e consome eletricidade para suas próprias necessidades.

— As forças de ocupação tentaram por vários meses conectar a central ao sistema elétrico russo, mas não conseguiram — disse o prefeito.

Riscos elevados

Segundo o serviço de imprensa da Energoatom, “os russos são incapazes de reiniciar sequer um reator, porque as linhas de alta tensão estão danificadas”.

Apesar do fato de Moscou ter enviado, de acordo com a Energoatom, especialistas nucleares à central, “suas competências não são suficientes para organizar um verdadeiro trabalho”. O operador ucraniano afirma ainda que a ocupação da central implica em uma “degradação gradual de todos os sistemas e seu equipamento”.

Há ainda uma preocupação com o “risco de um acidente nuclear” se a última linha de transmissão de energia que une o local ao sistema ucraniano for cortada.

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